A vida e a obra do Mestre Hilário Teixeira Lopes decorrem da energia imanente dos seus estados anímicos, expressos através dos instrumentos próprios da arte.
Pintar, torna-se então uma experiência tangível e sensorial, um estado de intensa emotividade, que enquadra as alegrias e tristezas próprias do Homem e as experiências que decorrem do seu espaço-tempo vivido.
Sobre a vida e sobre a tela, ressaltam ímpetos de criação, orquestrados segundo ordens diversas de sentimentos.
Onde antes se adivinhava o vazio, aparece agora a vigorosa materialidade da cor, potenciando as mais diversas figuras que a nossa imaginação quiser libertar.
A força estética de Hilário Teixeira Lopes, a sua qualidade artística mais íntima, nasce dessa convivência entre formas ricas e espontaneidades aparentemente incontroladas, potenciadas entre criador e fruidor, ora na forma ardente e comprometedora dos vermelhos voluptuosos, ora no perfeito equilíbrio de sensações estabelecido pela frieza calmante dos azuis.
Presentemente, todo o espaço é mais espraiado e as composições mais abertas, mais lumínicas, mais sintéticas.
Numa ausência de figuração, porque não a há, os gritos de cor aparentemente aleatórios, indeterminados ou ambíguos, ecoam sobre o céu branco da tela, difundindo magia em pinceladas largas.
O gigantismo impera, passivos que estamos perante tal explosão cromática, e vogamos ao sabor do traço expansivo, das cascatas insinuadas, dos rios de matéria espessa que descemos e subimos por sucessivas ramificações e afluentes infinitos, no sentido contemplativo da experiência artística.
Transmitir sentimentos à matéria e extrair da matéria os seus próprios sentimentos é a proposta transcendente que Mestre Hilário Teixeira Lopes nos propõe nesta sua nova fase de pesquisa.
Em tempo de criatividade – A expressão de sentimentos, quebra o espelho fácil da realidade, substituindo-o pela emergência de um mundo interior colorido, em estados de alma que traduzem um olhar aguçado sobre a vida e sobre a arte.
Fazendo-nos parceiros da beleza que cria, cúmplices do seu mundo de fantasia, Mestre Hilário recria um clima próprio de sensibilidade rítmica, com a pureza e a mestria técnica de quem não só cria arte mas é ele próprio arte – arte de viver, de ver o mundo e de o transmitir como um guia do pensamento.
Na sua incessante faina de criador, sem esmiuçar detalhes, recria sonhos e descreve mundos, registando as imagens inesquecíveis que um dia julgámos adivinhar por entre as nuvens do céu azul de verão.
Alquimista da cor, aprendeu a decompor a realidade em sensações, que traduzidas plasticamente com grande qualidade estética, nos dão a palavra-chave necessária para descodificar o caminho inverso até à realidade de cada um de nós.
E porque a ARTE é sempre uma forma de expressão relacionada com cada temperamento, eis porque as obras de Mestre Hilário são afinal documentos sinceros do seu mundo sensível e da sua personalidade, onde todos nos conseguimos rever e encontrar. E aqui reside o maior dos seus triunfos.
Perante estas considerações, entendemos que de nada servem mais palavras para aferir o constante desenvolvimento plástico que contemplamos, ano após ano, no trabalho do Mestre.
Deixemos pois, que o tempo seja de criatividade, dando largas à expressão de sentimentos.
Álvaro Lobato de Faria
Abril 2011