Um LIVRO em destaque:
A CASA que nos traz o respirar , o entrever e vaguear pelos cheiros , os esgares a névoa não refrescada ... um chão velho e sujo cravados pelas pegadas dos tempos.
Como podemos ler na contra capa, "Narrativa visualmente apelativa, antropológica,marcadapor uma sociologia do sofrimento, este romance faz-nos reconhecer ideias e perdas contemporâneas, aproximando-nos da condição humana no quadro de uma espécie de desertificação anunciada."
Como diz Mário Cláudio : um dos livros mais bem escritos últimamente entre nós.
Um pedaço de vida a não perder
MJF
A CASA
Este livro, alegoria inquietante povoada por gente envelhecida e alguns traumatizados da guerra, começa por nos sugerir um espaço invulgar, uma arquitectura temporalmente errada, invulgar, entre próteses estruturais improváveis e a quase prosaica imagem de um centro de acolhimento votado sobretudo à terceira idade. Como se saída de um passado indeterminado, não propriamente longínquo, a Casa mergulha numa paisagem exterior sem limite, após jardins mal tratados e vedações atrás de vedações, acrescentada, através dos tempos, de novos pavilhões geminados ao estilo inicial, na urgência de uma demografia trabalhosa, gente meio perdida, pessoas solitárias e sem memória, ali procurando conferir ao resto das suas vidas um pouco de dignidade ou de conforto. Mas a imagem do mundo infiltra-se nesta multidão acossada por muitos problemas de saúde, de abandono, restos de retratos, amarelecidos, talvez segredos de família, porventura afectos escondidos em vulgares caixas de cartão.
O quotidiano desta população, na sua diversidade e grupos mais relacionados, enche de tumultos iniciais estas páginas, numa relação complexa pessoa a pessoa,
a melancolia de outros tempos de vida e do quadro intenso das famílias. Há restos por aqui, jogos, gente ainda saudável, amores encobertos. Há as regras de serviço, as normas, os dogmas, a assistência abrupta. Há as enfermeiras auxiliares que fazem por dar uma continuidade razoável aos velhos, entre as refeições, tratamentos, conversas patéticas, e também a presença ainda forte (mais abalada) dos «hóspedes» mais novos e cuja mente parece gravemente afectada pelas sequelas da guerra ou pela batalha das grandes cidades, entre a mitigação dos destinos.
Narrativa visualmente apelativa, antropológica, marcada por uma sociologia do sofrimento, este romance faz-nos reconhecer ideias e perdas contemporâneas, aproximando-nos da condição humana já no quadro de uma espécie de desertificação anunciada.
Rocha de Sousa