Saramago partiu, deixando as marcas de sua passagem.
Homem de caráter firme, defensor ferrenho das próprias crenças e idéias, jamais se deixou abater pelo impacto que seus livros e suas palavras causaram em seus oponentes. Seu autoexílio, em Lanzarote, não foi fruto do abatimento, mas, uma vez mais, uma resposta, ou melhor, uma forma de repúdio e insubmissão às regras de um mundo que não estava preparado para a sua presença.
Sua partida há de deixar um rastro de saudade naqueles, que como eu, o admiraram como indivíduo e como escritor.
Tivemos um breve contato, mas suficiente para que eu reconhecesse nele a exemplaridade de um homem capaz de assumir integralmente, sem medir os riscos, a amplitude de suas palavras.
O Saramago escritor já recebeu todas as honrarias que mereceu. É ao Saramago homem que dedico estas palavras:
Não mais o traço da tua pena,
Não mais a voz dissonante,
Não mais o desafio da escrita,
Mas para sempre a ousadia
Da arte que transgride a norma;
Para sempre os olhos que vêem
Além da mera imagem;
Para sempre a lucidez
Ante a cegueira do mundo.
Profa. Dra. Shirley de Souza Gomes Carreira
Rio de Janeiro /Brasil
No comments:
Post a Comment