1989
No 15º aniversário do seu desaparecimento, publicamos o significativo texto com que o Prof. Escultor João Duarte apresentou a exposição “Formas de Existir” de Nelson Dias no MAC-Movimento Arte Contemporânea, em Lisboa
Numa conjuntura cultural como a nossa, onde os picos de visibilidade pública das Artes Plásticas tendem, infelizmente, a afirmar-se em exclusivo mediante acontecimentos eminentemente gratuitos, conviria perguntar, quinze anos passados, onde está o pintor Nelson Dias?
Um dos aspectos em que é mais notório o défice histórico do meio artístico português é a carência de exposições individuais e retrospectivas representativas de nomes consagrados da história recente da arte moderna portuguesa.
Pouco usual entre nós que um artista, após a sua morte, seja homenageado por uma galeria, como na presente acontece, ou seja: uma mostra da obra feita, uma consciência da inserção do artista no tempo, e do tempo decorrido, uma qualificação ao seu nível de arte, da sua independência com maioridade estética.
Mais do que uma homenagem, esta exposição vai funcionar para muita gente como o encontrar formas de permitir e incentivar a fruição da arte. É falar de cultura, de a fazer assumir o seu papel interveniente e transformador de mentalidades, de a tornar acessível a um, cada vez maior, número de pessoas.
Tratando-se de Nelson Dias, para quem como eu e outros seus amigos que tiveram a honra de assistir e estar de perto da sua mestria de fazer e de ensinar, com a autoridade que só é consentida àqueles que são naturalmente mestres, ele dedicou muito de si ao desenho e à pintura, a esse trabalho árduo, exigente e por isso mesmo generoso, de transmitir ensinamentos, de formar gente.
E muitíssimo se lhe deve nessa prestigiosa tarefa.
A sua acção no âmbito do desenho e seu ensino deve ser merecidamente lembrada, pois seguramente foi uma das figuras, fascinante e polémica, que até hoje sobreviveu à nossa Escola.
Sendo, quanto a mim, desnecessário falar dos seus variados trabalhos, dado que a sua obra fala por si, ele foi um homem que tinha uma inquietação espiritual, uma grande capacidade criativa, uma enorme sólida formação cultural e filosófica, aliada a uma postura de acção.
O ensino artístico, e especialmente o ensino do desenho e da pintura na ESBAL ficaram mais pobres, estando todos os docentes agradecidos pela sua acção exemplar.
No patamar da vida, que é um privilégio dos homens invulgares, sobretudo nos artistas cuja vida verdadeira talvez comece quando o seu corpo vai para baixo da terra, reduzido a pó, Nelson Dias está vivo na sua obra, na História de Arte Portuguesa, no coração e na memória dos seus muitos amigos.
Até já amigo!
João Duarte, Outubro de 2007
Numa conjuntura cultural como a nossa, onde os picos de visibilidade pública das Artes Plásticas tendem, infelizmente, a afirmar-se em exclusivo mediante acontecimentos eminentemente gratuitos, conviria perguntar, quinze anos passados, onde está o pintor Nelson Dias?
Um dos aspectos em que é mais notório o défice histórico do meio artístico português é a carência de exposições individuais e retrospectivas representativas de nomes consagrados da história recente da arte moderna portuguesa.
Pouco usual entre nós que um artista, após a sua morte, seja homenageado por uma galeria, como na presente acontece, ou seja: uma mostra da obra feita, uma consciência da inserção do artista no tempo, e do tempo decorrido, uma qualificação ao seu nível de arte, da sua independência com maioridade estética.
Mais do que uma homenagem, esta exposição vai funcionar para muita gente como o encontrar formas de permitir e incentivar a fruição da arte. É falar de cultura, de a fazer assumir o seu papel interveniente e transformador de mentalidades, de a tornar acessível a um, cada vez maior, número de pessoas.
Tratando-se de Nelson Dias, para quem como eu e outros seus amigos que tiveram a honra de assistir e estar de perto da sua mestria de fazer e de ensinar, com a autoridade que só é consentida àqueles que são naturalmente mestres, ele dedicou muito de si ao desenho e à pintura, a esse trabalho árduo, exigente e por isso mesmo generoso, de transmitir ensinamentos, de formar gente.
E muitíssimo se lhe deve nessa prestigiosa tarefa.
A sua acção no âmbito do desenho e seu ensino deve ser merecidamente lembrada, pois seguramente foi uma das figuras, fascinante e polémica, que até hoje sobreviveu à nossa Escola.
Sendo, quanto a mim, desnecessário falar dos seus variados trabalhos, dado que a sua obra fala por si, ele foi um homem que tinha uma inquietação espiritual, uma grande capacidade criativa, uma enorme sólida formação cultural e filosófica, aliada a uma postura de acção.
O ensino artístico, e especialmente o ensino do desenho e da pintura na ESBAL ficaram mais pobres, estando todos os docentes agradecidos pela sua acção exemplar.
No patamar da vida, que é um privilégio dos homens invulgares, sobretudo nos artistas cuja vida verdadeira talvez comece quando o seu corpo vai para baixo da terra, reduzido a pó, Nelson Dias está vivo na sua obra, na História de Arte Portuguesa, no coração e na memória dos seus muitos amigos.
Até já amigo!
João Duarte, Outubro de 2007
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