«...Eu não tenho medo de morrer, o que me dói é não haver nenhuma ligação entre o nada e o ser, a borboleta que ainda pousa no cemiteriozinho onde nem os ossos que nos fazem se desfazem e se transformam indistintamente em terra. Olhe, veja se me desculpa esta piedade, esta auto compaixão. Isto tem dias. Tem horas. Mas atormenta-me a reforma, a casa, um cão que por lá aparece e me faz companhia, me cheira fungando, por vezes dormindo junto da minha cama. Quando isso acontece, é como se Arminda (dormindo morta) ali estivesse a meu lado, sob os lençóis. O cão desaparece durante semanas e volta para visitas persistentes, de fome e de amor. É só um cão, afinal.»
Excerto do livro: "Os Fantasmas de Lisboa", de Rocha de Sousa
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