Júlio Resende foi um talento que se realizou através do desenho e da pintura, com as cores que o deram a conhecer na forma expressionista."Eu sou aquilo que faço e pinto. Sou expressionista. Uma pessoa é expressionista porquê? Porque exalta certas coisas e desinteressa-se por outras. Começo sempre a trabalhar sem saber muito bem aquilo que vou fazer. Gosto muito do meu instinto, daquilo que vem e que depois controlo. Naturalmente, não vou até ao fim nesse devaneio. Em devido tempo, a reflexão vem ao de cima", lê-se numa das últimas entrevistas, ao jornal «Público», em 2008, onde admitia também que a morte não o preocupava.
Júlio Resende nasceu no Porto a 23 de Outubro de 1917. Era professor do ensino secundário mas o gosto pela pintura levou-o para outros caminhos. Fez ilustrações e banda desenhada e decide aprender a desenhar e pintar na Academia Silva Porto.
Frequentou as Belas Artes do Porto e de Paris e em 1949 cruzou-se com os maiores nomes da arte como Francisco Goya e Pablo Picasso.
Em Lisboa, conheceu Almada Negreiros em 1946 e no Porto foi discípulo de Dórdio Gomes, falecido em 1976. Ganhou em 1951 o prémio especial na Bienal de S. Paulo.
Júlio Resende recebeu outros prémios ao longo da sua carreira, entre os quais se destaca o Prémio Nacional de Pintura da Academia de Belas-Artes e, em 1997, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
http://hardmusica.pt/noticia_detalhe.php?cd_noticia=9964
Júlio Resende
Artista português, Júlio Martins da Silva Resende, nasceu no Porto a 23 de outubro de 1917 e faleceu a 21 de setembro de 2011. Júlio Resende frequentou as Escolas de Belas-Artes do Porto e de Paris.As primeiras pinturas estão inseridas na "temática alentejana", que vai retomar com maior rigor plástico e maior densidade depois de 1949, ao voltar de uma viagem pela Europa que o levou a conhecer Francisco Goya e Pablo Picasso. Em Regresso ao trabalho (1950) e Mulheres de Pescadores (1951) ainda está presente uma temática neorrealista, que não prevalece, contudo, sobre o espaço pictural, multifacetado, ritmado, remetendo para uma maior abstração. Fez inúmeras exposições individuais em Portugal, Espanha, Bélgica, Noruega, Brasil. Representou o país em exposições coletivas nas Bienais de S. Paulo, Veneza, Ohio, Londres, Paris, etc. Nos anos 60, Resende interessou-se ainda por projetos de decoração e arquitetura, colaborando na decoração do Palácio da Justiça de Lisboa ou realizando o painel para a sede do Banco de Portugal. O painel Ribeira Negra, executado em 1968 por encomenda da Câmara Municipal do Porto, é tido como o melhor painel cerâmico contemporâneo. Na intervenção no Metropolitano de Lisboa, na estação de Sete-Rios, desenvolve a memória das paisagens luxuriantes trazida das viagens pelo Brasil. Enquanto ilustrador, colaborou com vários autores, designadamente com Eugénio de Andrade em Aquela Nuvem e outras, com Sophia de Mello Breyner Andresen em Noite de Natal, O Rapaz de Bronze e O Primeiro Livro de Poesia, e com Ilse Losa em O Rei Rique e Outras Histórias.
Como referenciar este artigo:Júlio Resende. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-09-22].Disponível na www:
Júlio Resende.
O mestre de todas as visões e mistérios
por Maria Catarina Nunes, Publicado em 22 de Setembro de 2011
http://www.ionline.pt/conteudos/boavida.html
Gostava de viagens e de fumar cachimbos. Mas da pintura, escapar seria proeza inalcançável. Morreu ontem, aos 93 anos
Dizia não perceber porque é que tantos jornalistas o queriam entrevistar, que um pintor deve mais pintar do que falar. Fumava cachimbo desde os 30 anos e tinha um desassossego que o obrigava a levantar cedo para se permitir (re)criar durante o dia e à noite deitar-se sentindo que viveu. Júlio Resende morreu ontem, aos 93 anos, em sua casa, no Lugar do Desenho, em Valbom, Gondomar. O seu corpo está em câmara ardente na igreja paroquial local. Missa de corpo presente hoje às 16h, funeral depois, no Cemitério de Valbom. O sentimento de ter vivido? Esse fica, mesmo para lá do dia da sua morte. Para muitos como o melhor pintor português de sempre.Júlio Resende era um homem inquieto, talvez insatisfeito, mas desassombrado. Trocava voltas nas conversas para fugir das comparações com outros artistas. Ao mesmo tempo, foi nessa ânsia de encontrar coisas que nunca se quis definir, porque o mistério é o sal da obra. Extensa. Trabalho de aranha, cauteloso, que simultaneamente respirava espontaneidade e leveza. Sem surpresas, ontem os elogios começaram a cair em catadupa. Cavaco Silva, Francisco José Viegas, Fernando Paulo, da Câmara de Gondomar, e tantos outros. "Mostrou sempre vontade de ser um artista o mais completo possível", afirmou o crítico Rui Mário Gonçalves; "Um grande homem, um grande artista", certificou o escultor José Rodrigues. Ou, nas palavras da pintora Graça Morais, sua aluna na Escola Superior de Belas-Artes no Porto: "Um grande mestre e artista. A melhor forma de o homenagear é vendo e mostrando os seus quadros", sustenta.O trabalho Expor a sua obra é o que faz a Galeria Baganha, no Porto, espaço que representou o artista nos últimos três anos, e onde ainda estão patentes alguns dos seus quadros. Foi na Baganha que Resende fez a sua última exposição. Inaugurada em Maio, "In Media Res" era uma retrospectiva da obra que assinou nos últimos 20 anos: "Isto porque ele, no último ano de vida, pintou passando pelas fases todas das duas últimas décadas, como num flashback", explicou o director artístico da galeria, Carlos Amaral. Algumas dessas peças ainda podem ser vistas em duas das salas do espaço na Rua do Bom Sucesso.As vozes próximas dizem que, mesmo com as mãos trémulas dos 93, Júlio Resende era extrovertido, com uma ideia fixa de excelência. O jornalista e historiador Germano Silva era um desses "grandes amigos": "Ele vivia para a arte, tinha uma obsessão pela arte, pela perfeição, o que o levou à criação do Lugar do Desenho. Tinha imensos desenhos e, para que não se perdesse essa obsessão, criou esse espaço", lembrou ontem. Conheceram-se frente à montra do "Primeiro de Janeiro" no Porto, ano sem precisão, e tornaram-se inseparáveis: "Era ele que decorava a redacção a pedido do Manuel Pinto de Azevedo, pois tinha criado para o jornal as figuras da banda-desenhada do ''Matulinho'' e do ''Matulão'', que transformavam aquelas montras numa atracção", recorda o jornalista. Foi, aliás, na imprensa, como ilustrador no suplemente infantil do "Jornal de Notícias", que o pintor começou por fazer carreira. Depois Resende ainda colaborou com outros jornais e foram as suas mãos (e olhos) que transmitiram as ilustrações da obra de Fernando Namora, "Retalhos da Vida de Um Médico", uma experiência a que se atirou anos depois, quando regressou a Portugal após uma longa estada em Paris.O mundo e os prémios Júlio Resende tinha 20 anos quando decidiu frequentar a licenciatura de pintura na Escola de Belas-Artes do Porto. Assim fez, e ali foi discípulo de Dórdio Gomes. Em 1944, um ano antes de se formar, apareceu pela primeira vez ao público na "Exposição dos Independentes". Fecha o curso, em 1945, com a pintura "Os Fantoches" e bastou outro ano para que concretizasse a sua primeira exposição. Lugar escolhido? Lisboa. Júlio Resende parte para a capital e é aí que conhece Almada Negreiros. Parte daí e decide visitar Madrid, onde conhece a obra de Goya. Em 1948 chegou a Paris. Na cidade iluminada foi aprendiz de Duco de la Haix e de Otto Friez. Aprofunda-se na obra de Picasso e, de regresso a Portugal, mostra o trabalho desenvolvido em França. A partir daqui não mais deixará de ser equiparado ao pintor espanhol. A sua obra passa a ser identificada como expressionista.Foi nesse ano, de regresso a Lisboa, que "Retalhos da Vida de Um Médico" ganhou direito de publicação. Nessa altura, o artista plástico já apontava para o cubismo e aproxima-se da não figuração, da abstracção. Júlio Resende atravessou diversos estilos, pesquisas e encruzilhadas, mas sempre desenhou com frescura.A vida em Lisboa, Madrid e Paris dava- -lhe novas visões, outros mistérios, e talvez tenha sido essa uma das razões para que Cavaco Silva tenha dito ontem que Resende era "de vida inspirada e de vida inspiradora". Mas por mais sede que tivesse de saber e de novas experiências, a cidade do Porto continuava a ser o lugar da raiz. Em 1951 o artista regressa às origens. Pintava o mar, as gentes desse mar, e foi nessa altura que venceu o prestigiado prémio especial na Bienal de Arte de S. Paulo, inaugurando uma série de prémios que se seguiriam nos anos seguintes. Logo em 1952, altura em que começou a dar aulas no ensino secundário, arrecadou o prémio da 7ª Exposição dos Artistas do Norte. Como professor, levou um novo espírito às aulas: "Ele tinha um gosto especial em levar os alunos para o exterior e colocá-los em contacto directo com as populações rurais", lembrou Rui Mário Gonçalves. Durante a década de 60, Resende deu atenção às coisas da arquitectura e da decoração. Participou na decoração do Palácio da Justiça de Lisboa, com seis painéis Já no Porto, assinou painéis cerâmicos para o Hospital de São João e o portento que é Ribeira Negra, painel de azulejos junto à Ponte D. Luís.Anos antes Era o ano de 1917. Faltava pouco para que Lenine derrubasse o governo russo provisório para fazer subir o socialista soviético. Pouco antes da Revolução Vermelha eclodir, a cauda da Europa via Júlio Resende nascer no Porto. Era o dia 23 de Outubro de 1917 e ninguém poderia imaginar que se seguiriam 93 anos de tintas, desenhos e espontaneidade rabiscada nas telas. Júlio Resende foi Portugal nas mais diversas apresentações. Expôs em Espanha, França, Noruega e Brasil, ou nas Bienais de S. Paulo, Veneza, Londres e Paris. Recebeu o Prémio Nacional de Pintura da Academia de Belas-Artes, e os de Armando de Basto, e de Sousa Cardoso. Foi nomeado Membro da Academia Real das Ciências, Letras e Belas-Artes Belgas, comendador de Mérito Civil de Espanha e distinguido com o prémio da Associação Internacional de Críticos de Arte.Na sua autobiografia escreveu: "Queria efectivamente ser pintor". Cumpriu tudo.
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