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QUEM SOMOS







O Casa Amarela 5B -Jornal Online surge da vontade de vários artistas, de, num esforço conjunto, trabalharem no sentido de criar uma relação forte com o público e levando a sua actividade ao seu conhecimento através do seu jornal online.

Este grupo de artistas achou por bem dedicar o seu trabalho pintorNelsonDias, https://www.facebook.com/pages/Nelson-Dias/79280420846?ref=hl cuja obra terá sido muito pouco divulgada em Portugal, apesar de reconhecido mérito na banda desenhada, a nível nacional e internacional e de várias vezes premiado em bienais de desenho e pintura.


Direcção e coordenação: Maria João Franco.
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Saturday, July 27, 2013

VIRGÍLIO DOMINGUES _ uma obra notável a preservar como património da acção cultural e social




ANTI-MONUMENTOS, esculturas de Virgílio Domingues-2

 Virgílio Domingues. um dos mais importantes escultures da modernidade das artes nacionais. Um escultor que, por opção, escapava à teia das relações públicas e dos mercados que contaminam as artes.
A ARTE MAIOR ATENTA
À COMÉDIA DA VIDA
Toda a arte traz o cunho da sua época,
mas a grande arte é onde cunho está
mais profundamente vincado
 Henri Matisse, Écrits et Propos sur L’Art

Sei apenas duas coisas muito simples, disse Heikal
(…) a primeira é que o mundo em que vivemos
é regido pela mais ignóbil quadrilha de tratantes
(…) a segunda é esta: acima de tudo, convém não os levarmos a sério;
é isso que eles querem, que os levemos a sério
Albert Cossery, A Violência e o Escárnio
Em toda a obra de Virgílio Domingues a prática artística não se exclui do devir da realidade nem da análise da sua finalidade social e ideológica. É esse o território onde ancoram as suas explorações estéticas e as incursões pela história de arte, observando a sua autonomia relativa mas ficando imune, embora não desatento, à rotatividade e efemeridade das modas artísticas, às obsolescências da arte que, quando se transforma num objectivo fechado em si-própria, se torna descartável em enredos formalistas, o que obviamente recusa e lhe é estranho.
A escultura de Virgílio Domingues está sempre na fronteira de uma narrativa satírica feita com a matéria da memória de um episódio que se perdeu ou que se irá inevitavelmente perder na voracidade do tempo e que é moldado pelo escultor em recordação, na poética da recordação para que não resvale para o esquecimento, para que o seu conteúdo não se degrade nas sempre possíveis leituras imediatas desviantes do seu significado intemporal.
É com essas ferramentas que Virgílio Domingues trabalha com uma originalidade forjada numa lucidez radical. Olha à sua volta com crua agudeza, desmontando os mecanismos do reino deste nosso mundo, onde se legitimam os ataques aos direitos humanos, em nome desses mesmos direitos tendo por palco uma democracia de geometrias variáveis, riscada à medida dos interesses dominantes de uma minoria entrincheirada num corpo legislativo em que se afirma o direito do mais forte à liberdade. Estende uma fina rede de escuta sobre o mundo para decifrar e desarmar as novas roupagens da roupa velha do argumentário dos protagonistas da comédia diária das reformas, da modernização, do desenvolvimento, dos eteceteras futuros, que travestem a sua mediocridade em grandiloquentes exercícios retóricos, onde vale (quase) tudo para fazer vingar as manobras de ocultação dos mecanismos de exploração e dominação social, económica e cultural, com guarida garantida na comunicação social domesticada para se embevecer com essa comédia cheia de brilhantes cenários irrisórios ocupados por farsantes emplumados que querem ser levados a sério. Contrariando o que eles querem, o escultor não leva esses actores a sério, mas torna dramaticamente sérias as situações que protagonizam, numa indignação violenta contra a pauperização da vida promovida por uma sociedade sem perspectivas e que não tem nenhuma dignidade para oferecer.
Os risos, os sorrisos sempre saudáveis e industriosos que as esculturas de Virgílio provocam ou podem provocar são shakespearianos. O seu tema central, persistentemente perseguido, é o do poder, do exercício do poder, dos pequenos aos grandes poderes, explodindo nas megalomanias dos gestos, das situações, dos cenários em que decorrem essas demonstrações que não escapam à ferocidade caústica do escultor que os encena e fixa com uma inegável volúpia no manuseamento da forma, em que é evidente o desejo da transposição do gesso ou do polietileno, materiais com que por economia de meios é (quase sempre) obrigado a trabalhar, para a pedra ou para o bronze, onde a sensualidade do tratamento dos pormenores adquiriria um calor compartilhável e mais próximo do calor humano que a mão inteligente do artista deixa impresso nas esculturas.
Essa temática nuclear na obra de Virgílio Domingues cruza-se constante e fortemente com o da representação da figura humana, questão central de toda história da escultura, que aqui adquire um significado muito particular por a moldar às inflexões sintácticas na anatomia que dão maior legibilidade às obras. Anatomias dos corpos dos objectos que se desenvolvem com uma com uma inusitada riqueza sensual de pormenores sem nunca se perderem em amaneiramentos supérfluos.
Percorrer a obra de Virgílio Domingues é perceber o prazer muito terreno de viajar através da arte pela comédia humana, em que nós também participamos, sem nunca perder o pé do enriquecimento estético.
Manuel Augusto Araújo

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