MONTMARTRE: GOLPE DE MÃO NO BATEAU LAVOIR
O “Bateau Lavoir” é bem mais que um atelier colectivo de artistas onde cerca de uma dezena foram instalados em 1889. Em primeiro lugar, a criação deste espaço deve ser entendida no contexto da época, depois que a vanguarda inovadora dos Impressionistas franceses fez convergir para Paris um bom número de criadores.
Esses ateliers vieram assim a abrigar pintores, mas também gente das letras, criadores de horizontes diversos, franceses e estrangeiros, humanistas, actores e até vendedores ambulantes, como dizia Fernande Olivier, companheira de Picasso nessa altura. Vejamos alguns marcos desse percurso.
A partir de 1893, o Bateau Lavoir recebe Paul Gauguin, depois da sua primeira viagem a Thaiti. Mais tarde, Modigliani, Raoul Dufy, Max Jacob e o poeta André WSalmon aí viveram. Outros por lá passaram: Van Dongen, Jules Pascin, Juan Gris (compatrriota de Picasso) Georges Braque, Maurice Utrillo, André Derain, Henri Matisse, mas também Jean Cocteau, Apollinaire ( poeta de “Alcools” e apaixonado pela pintura) Charles Dullin e Gertrude Stein, sem esquecer o romeno Constantin Brancusi, uma grande referência na história da escultura moderna e que acabaria por destronar Rodin. Max Jacob e Picasso aí organizaram, em fins de Novembro de 1908, com outros jovens pintores, o célebre banquete em honra de Henri Rousseau, dito o “Douanier”. Isto em presença dos melhores amigos de Picasso, em que se incluem os já citados G. Braque e Apollinaire, este na companhia da jovem pintora Marie Laurencin, bem como em presença dos americanos Gertrude e Leo Stein. Uma boa ocasião, agora em 2008, para comemorar o centenário e fazer reviver esse evento, com tudo o que ele significou na história da Pintura.
Entre os mencionados no percurso desta “cité” de artistas, eu deveria obviamente ter começado por Picasso, que lá viveu de 1904 a 1909, aliás em condições quase miseráveis de conforto, tal como todos os outros. Vivíamos todos mal, escrevia André Salmon nessa altura. E deveria sobretudo reter a data de 1907, quando o pintor mostra, nesse mesmo lugar, aos seus companheiros estupefactos a famosa tela das “Demoiselles d’Avignon”, que recordam a sua vivência em Barcelona. Com efeito, elas representam um grupo de prostitutas, em pé, à entrada de um bordel da “Carrer d’Avinyo”, no “Bairro Gótico da capital catalã. Essa tela, uma gritante fractura na arte pictórica, obrigou a partir daí a uma mudança radical da percepção, subverteu o modo de olhar e de ver o mundo, bem para além do registo pictórico propriamente dito. As “Meninas” foram a expressão de uma linguagem plástica diferente, dado estarmos em presença de figuras vampíricas a fuzilar o cliente com o olhar, esquadriadas com firmeza, com os seus enormes seios e pés. Era como se tu nos quisesses fazer engolir estopa e beber petróleo para cuspir fogo, teria dito Braque ao ver a tela. Tratava - se efectivamente de uma outra gramática, a do cubismo, com as suas formas geométricas, a estilhaçar a imagem. Matisse e Apollinaire de imediato recusaram a peça. O certo porém é que uma nova estética tinha surgido, através da multiplicação dos ângulos de visão, da simultaneidade da representação e da fractura da perspectiva. Com apenas 26 anos de idade, Picasso acabava de desmontar as regras de arte que tinham sido fixadas desde o Renascimento. O marchand de arte Henri Kahnweiller foi dos raros a compreender na hora o alcance dessa pintura. Gertrude Stein e o seu irmão Leo, que muito apreciaram a tela, também assim o entenderam.
Em suma, poderíamos afirmar que, depois de Cézanne, falecido em 1906, os grandes movimentos artísticos do princípio do século XX e de que somos os herdeiros, foram em larga medida formalizados em torno desse espaço mítico, coisa que a autarquia de Montmartre pretende ignorar ao fazer agora tábua rasa de tudo isso. Os seus habitantes saberão no entanto apurar que tipo de conluios haverá com a “Imobiliária da cidade de Paris”(RIVP) que exigiu a restituição deste espaço, e daí tirar as suas ilações.
Apesar de muitos artistas, depois da guerra de 14-18, o terem deixado em direcção de Montparnasse e da Ruche, respectivamente nos bairros 14 e 15 de Paris, outros chegaram e os revezaram. E assim tem sido até aos dias de hoje.
Não, o Bateau Lavoir não é um simples atelier colectivo de artistas. Ele marcou, no seu percurso, a história da arte moderna no Ocidente. E isso não aconteceu por acaso. Isso foi possível - é importante sublinhá-lo - porque ele foi sempre, ao longo do tempo, um espaço de vanguarda, de trabalho criativo, mas também de residência, reunião e de circulação das ideias, não uma galeria de exposições, museu ou algo semelhante. Daí que os artistas devam poder continuar a aí viver e trabalhar. Impedi-lo, como faz a Imobiliária de Paris acima referida, que agora pretende “retomar os locais”, é destruir a sua identidade histórica e trair a sua vocação. Quanto à expressão “retomar o local”, essa é uma terminologia administrativa, expedita, normalizada e sem rosto. Há que interrogar a linguagem e descodificar algumas das suas perversões.
Há sobretudo que resistir ao desmantelamento e ao massacre do velho Paris, preservar a herança, o que não poderá ser feito sem a mobilização dos habitantes deste bairro histórico, o que já deu frutos no passado, noutras ocasiões. Sem essa mobilização, o “Moulin de la Galette” já não estaria lá. E não se trata aqui, nestes casos, de uma visão nostálgica. Trata-se, isso sim, de interrogar o passado, portanto de enriquecer o presente. Picasso não teria certamente pintado as “Demoiselles d’Avignon”, ou tê-las-ia executado de outro modo, se não tivesse tido a sorte ou a oportunidade de conhecer as máscaras de arte negra que o deslumbraram no museu do Trocadéro em Paris, ou se não tivesse visto as esculturas ibéricas do Louvre, ou ainda se não tivesse, por sobre o vale de Andorra, partilhado por algum tempo a vida dos camponeses de Gosol. Os traços somáticos desses camponeses, os grandes planos cavados desses rostos não deixaram de marcar o artista andaluz. Isto sem falar na influência das “Grandes baigneuses” de Cézanne e do “Banho turco” de Jean- Dominique Ingres sobre o seu trabalho. E assim por diante… Sartre dizia que O inferno são os outros mas, neste caso, esse inferno é necessário e incontornável. Somos todos tributários, também em matéria de Arte.
Em 1972, a Unesco adoptou a Convenção e as recomendações relativas à protecção do património cultural e natural, que a França ratificou. Ora, é a própria noção de património que convém melhor explicitar para compreender quanto o Bateau Lavoir, para além dos seus próprios muros, diz respeito a Montmartre, para além dos limites dos seus muros, porque soube criar, ao longo das gerações, laços profundos e estreitas capilaridades com o ambiente social e urbano envolvente. O espírito do Bateau Lavoir é inseparável desse tecido que ele alimentou e do qual muito recebeu em troca. Eis porque toda e qualquer agressão a essa vocação primeira irá ferir também mortalmente o bairro a que pertence. Não compreender isso é não compreender nada do que está em causa. E nenhuma manobra de diversão o poderá iludir. Efectivamente, a noção de património evoluiu, alargou-se. Hoje, em termos de edifícios ou de monumentos, quem persistir em se limitar aos dados arquitectónicos propriamente ditos, está a coisificar e a desvitalizar o património. Edifícios cuja destruição, não raramente se autoriza, quando são menos monumentalistas ou menos históricos! Quando afinal, o importante não é saber se eles datam de antes ou depois de 1850. A nobreza da idade não tem o monopólio do coração. O que conta é o estatuto que conquistaram e adquiriram, cimentado e reconhecido ao longo do tempo e que souberam plasmar com tudo o que os rodeia, social e urbanisticamente. A “Gare de Orsay” foi salva por um triz. O conceito de património deve alargar-se à atmosfera ambiental, deve ser encarada no sentido do projecto local, il progetto locale de que fala Magnaghi, o que nada tem a ver com o culto dos monumentos. É pois em termos de antropologia do espaço, na senda de um Edward Hall, entre outros, que estas questões devem ser compreendidas. O Bateau Lavoir não faz excepção. Separar estas problemáticas das questões urbanísticas é uma doença infantil do património. E um Anacronismo.
Lisboa 2008
António Branquinho Pequeno (ULHT)
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Montmartre: main basse sur le Bateau Lavoir
Le Bateau Lavoir est bien plus qu’une «cité d’artistes » ou une bâtisse où furent aménagés, lors de sa création en 1889, une dizaine d’ateliers. À situer dans le contexte de l’époque: bien avant lui, le rayonnement de l’avant-garde des Impressionnistes français attirait déjà vers Paris un bon nombre d’artistes.
Ses ateliers ont abrité des peintres et des créateurs d’horizons divers, français et étrangers, mais aussi des humanistes, des acteurs et des marchands des quatre saisons, comme disait Fernande Olivier, la compagne de Picasso.
Dès 1893, il reçoit déjà Paul Gauguin, après son premier voyage à Thaiti. Plus tard, Modigliani, Raoul Dufy, Max Jakob et le poète André Salmon y ont vécu, artistes et gens de lettres confondus. D’autres sont passés: Van Dongen, Jules Pascin, Juan Gris (compatriote de Picasso) Georges Braque, Maurice Utrillo, André Derain, Henri Matisse, mais aussi Jean Cocteau, Apollinaire, (le poète d’« Alcools », passionné de peinture) Charles Dullin et Gertrude Stein, sans oublier le grand sculpteur roumain Constantin Brancusi, qui a en quelque sorte « détrôné » Rodin et qui fut aussi un tournant dans l’histoire de la sculpture moderne. Max Jacob et Picasso y ont organisé, fin Novembre 1908, avec d’autres jeunes peintres, le célèbre banquet en l’honneur d’Henri Rousseau, dit le Douanier. En présence des meilleurs amis de Picasso: Georges Braque, Apollinaire accompagné du jeune peintre Marie Laurencin, les américains Gertrude et Leo Stein. Voilà une bonne occasion, ce centenaire, pour commémorer et faire revivre l’évènement, en 2008, avec tout ce qu’il a signifié dans l’histoire de la peinture.
Parmi les créateurs qui ont jalonné ce parcours, j’aurais dû commencer par Pablo Picasso, qui y a vécu de 1904 à 1909 dans des conditions presque misérables de confort - nous vivions tous mal - écrivait André Salmon, et retenir la date de 1907, lorsqu’il a fait découvrir sur place à ses compagnons stupéfaits le tableau les Demoiselles d’Avignon, un souvenir barcelonais de l’artiste, qui représente une fracture majeure, fondatrice, dans l’art pictural. Les « Demoiselles » (des prostituées debout, à l’entrée d’un bordel de la « Carrer d’Avinyo », dans le « Barrio Gotico » de Barcelone) ont bouleversé la manière de voir et de concevoir le monde. Expression d’un langage plastique différent, ces goules vampiriques fusillaient le client du regard, équarries avec brutalité, avec leurs énormes seins et pieds. C’est comme si tu voulais nous faire manger de l’étoupe et boire du pétrole pour cracher du feu, lui aurait dit Braque en voyant la toile. C’était une autre grammaire, celle du cubisme, avec des formes géométriques qui ont fait éclater l’image. Refusée au début par Matisse et Apollinaire, une nouvelle esthétique voyait pourtant le jour, celle de la représentation simultanée, avec la multiplication des angles de vision qui fracturent la perspective. A l’âge de 26 ans, Picasso venait d’envoyer aux orties les règles de l’art, telles qu’elles furent fixées pendant la Renaissance. Le marchand Henri Kahnweiler fut des rares, à l’époque, à comprendre assez rapidement la portée du tableau. Gertrude Stein et son frère Léo ont, eux aussi, beaucoup aimé la toile.
Bref, après Paul Cézanne, mort en 1906, on peut affirmer que les grands mouvements artistiques du début du XXème siècle, dont nous sommes les héritiers, ont été formalisés, dans une large mesure, autour de cet endroit mythique de Montmartre, ce dont la Mairie du XVIIIème arrondissement de Paris veut maintenant faire table rase. Les gens de Montmartre chercheront sans doute à savoir quelles connivences y- aurait-t-il avec La Régie Immobilière de la Ville de Paris (RIVP) et en tirer les conclusions.
Malgré les départs d’artistes, après la guerre de 1914- 1918, en direction de Montparnasse et de la Ruche , dans le XIVème et le XVème arrondissements, d’autres sont arrivés et pris la relève, jusqu’à aujourd’hui.
Non, le Bateau Lavoir n’est pas une simple cité d’artistes car il marqua le grand tournant de l’histoire de l’art moderne en Occident. Et cela ne s’est pas produit par hasard. Cela fut possible - c’est important de le souligner - parce qu’il a toujours été un espace d’avant- garde, de travail créatif, de résidence, de réunion et de circulation des idées, non une galerie d’exposition, un musée ou similaire. Et c’est la raison pour laquelle les artistes doivent pouvoir aujourd’hui continuer à y vivre et à y travailler. L’empêcher, comme fait la Régie qui prétend « reprendre le local », c’est détruire son identité historique, trahir sa vocation. Et quant à l’expression « reprendre le local » elle n’est qu’une terminologie administrative et expéditive et sans visage. Le Bateau Lavoir n’est pas un local quelconque, c’est un espace. Il faut interroger le langage et décoder ses perversions.
Il faut surtout résister au démantèlement et au massacre du vieux Paris, préserver l’héritage, avec la mobilisation des gens du quartier de Montmartre, qui a déjà donné ses fruits dans le passé. Sans elle, le Moulin de la Galette ne serait plus là.
Et ce n’est pas une vision nostalgique. C’est l’avenir qui est en cause. Tout le monde est tributaire de son passé. Picasso n’aurait peut- être pas exécuté les Demoiselles d’Avinyo, ou alors les aurait exécuté autrement, s’il n’avait pas fait la connaissance des masques de l’art nègre au musée du Trocadéro, s’il n’avait pas vu les sculptures ibériques du Louvre, ou s’il n’avait pas, au-dessus du Val d’Andorre, partagé pendant quelque temps la vie des paysans de Gosol, aux traits somatiques fort marqués, les grands méplats de leurs visages découpés, ou encore s’il n’avait pas vu les « Grandes baigneuses » de Cézanne ou le « Bain turc » de Jean- Dominique Ingres…s’il n’avait pas vu, connu…ceci…cela, que sais-je encore? D’après Sartre, l’enfer c’est les autres, mais alors, dans ce cas, c’est un enfer nécessaire, incontournable. Tout le monde est tributaire de tout le monde. Et pas seulement en Art.
En 1972, l’Unesco a adopté la « Convention et les recommendations relatives à la protection du patrimoine culturel et naturel », ratifiée par la France. Or, c’est la notion même de patrimoine qu’il convient d’expliciter davantage pour mieux comprendre combien le Bateau Lavoir est l’affaire de Montmartre. Il a dépasse depuis longtemps les limites des murs d’une bâtisse et a su construire, au long des décennies des liens profonds, des capillarités avec l’environnement social et urbain. L’esprit du Bateau Lavoir est inséparable du tissu de Montmartre dont il s’est nourrit et qu’il a nourri à son tour. C’est pourquoi toute agression à cette vocation, quelle que soit la forme, le blessera à mort, ainsi que le quartier dont il fait partie. Si l’on ne comprend pas ça, on n’a rien compris. Aucune manœuvre de diversion ne pourra pas l’éluder.
La notion de patrimoine a, en effet, évolué. Elle doit être prise dans un sens plus étendu. Il n’est plus question d’un patrimoine qui se limite aux données architecturales d’un édifice ou d’un monument. Ce serait les chosifier et les dévitaliser. Des édifices dont on autorise par ailleurs, non rarement, la destruction, s’ils sont moins monumentaux ou moins historiques ! L’important ce n’est pas de savoir s’ils datent d’avant ou d’après 1850. La dite noblesse de l’âge n’a pas de monopole. Ce qui compte c’est leur statut acquis, gagné, reconnu. La Gare d’Orsay fut sauvée de justesse. Le patrimoine doit donc s’élargir à l’atmosphère urbaine environnante, il doit aller dans le sens du projet local (il progetto locale) dont parle Magnaghi. Rien à voir avec le culte des monuments. C’est en termes d’anthropologie de l’espace que ces questions doivent être comprises et le Bateau Lavoir ne fait pas exception. Séparer ces problématiques de celles de l’urbanisme est une maladie infantile du patrimoine. Et un anachronisme.
Lisbonne 2008
António Branquinho Pequeno (ULHT)
Le Bateau Lavoir est bien plus qu’une «cité d’artistes » ou une bâtisse où furent aménagés, lors de sa création en 1889, une dizaine d’ateliers. À situer dans le contexte de l’époque: bien avant lui, le rayonnement de l’avant-garde des Impressionnistes français attirait déjà vers Paris un bon nombre d’artistes.
Ses ateliers ont abrité des peintres et des créateurs d’horizons divers, français et étrangers, mais aussi des humanistes, des acteurs et des marchands des quatre saisons, comme disait Fernande Olivier, la compagne de Picasso.
Dès 1893, il reçoit déjà Paul Gauguin, après son premier voyage à Thaiti. Plus tard, Modigliani, Raoul Dufy, Max Jakob et le poète André Salmon y ont vécu, artistes et gens de lettres confondus. D’autres sont passés: Van Dongen, Jules Pascin, Juan Gris (compatriote de Picasso) Georges Braque, Maurice Utrillo, André Derain, Henri Matisse, mais aussi Jean Cocteau, Apollinaire, (le poète d’« Alcools », passionné de peinture) Charles Dullin et Gertrude Stein, sans oublier le grand sculpteur roumain Constantin Brancusi, qui a en quelque sorte « détrôné » Rodin et qui fut aussi un tournant dans l’histoire de la sculpture moderne. Max Jacob et Picasso y ont organisé, fin Novembre 1908, avec d’autres jeunes peintres, le célèbre banquet en l’honneur d’Henri Rousseau, dit le Douanier. En présence des meilleurs amis de Picasso: Georges Braque, Apollinaire accompagné du jeune peintre Marie Laurencin, les américains Gertrude et Leo Stein. Voilà une bonne occasion, ce centenaire, pour commémorer et faire revivre l’évènement, en 2008, avec tout ce qu’il a signifié dans l’histoire de la peinture.
Parmi les créateurs qui ont jalonné ce parcours, j’aurais dû commencer par Pablo Picasso, qui y a vécu de 1904 à 1909 dans des conditions presque misérables de confort - nous vivions tous mal - écrivait André Salmon, et retenir la date de 1907, lorsqu’il a fait découvrir sur place à ses compagnons stupéfaits le tableau les Demoiselles d’Avignon, un souvenir barcelonais de l’artiste, qui représente une fracture majeure, fondatrice, dans l’art pictural. Les « Demoiselles » (des prostituées debout, à l’entrée d’un bordel de la « Carrer d’Avinyo », dans le « Barrio Gotico » de Barcelone) ont bouleversé la manière de voir et de concevoir le monde. Expression d’un langage plastique différent, ces goules vampiriques fusillaient le client du regard, équarries avec brutalité, avec leurs énormes seins et pieds. C’est comme si tu voulais nous faire manger de l’étoupe et boire du pétrole pour cracher du feu, lui aurait dit Braque en voyant la toile. C’était une autre grammaire, celle du cubisme, avec des formes géométriques qui ont fait éclater l’image. Refusée au début par Matisse et Apollinaire, une nouvelle esthétique voyait pourtant le jour, celle de la représentation simultanée, avec la multiplication des angles de vision qui fracturent la perspective. A l’âge de 26 ans, Picasso venait d’envoyer aux orties les règles de l’art, telles qu’elles furent fixées pendant la Renaissance. Le marchand Henri Kahnweiler fut des rares, à l’époque, à comprendre assez rapidement la portée du tableau. Gertrude Stein et son frère Léo ont, eux aussi, beaucoup aimé la toile.
Bref, après Paul Cézanne, mort en 1906, on peut affirmer que les grands mouvements artistiques du début du XXème siècle, dont nous sommes les héritiers, ont été formalisés, dans une large mesure, autour de cet endroit mythique de Montmartre, ce dont la Mairie du XVIIIème arrondissement de Paris veut maintenant faire table rase. Les gens de Montmartre chercheront sans doute à savoir quelles connivences y- aurait-t-il avec La Régie Immobilière de la Ville de Paris (RIVP) et en tirer les conclusions.
Malgré les départs d’artistes, après la guerre de 1914- 1918, en direction de Montparnasse et de la Ruche , dans le XIVème et le XVème arrondissements, d’autres sont arrivés et pris la relève, jusqu’à aujourd’hui.
Non, le Bateau Lavoir n’est pas une simple cité d’artistes car il marqua le grand tournant de l’histoire de l’art moderne en Occident. Et cela ne s’est pas produit par hasard. Cela fut possible - c’est important de le souligner - parce qu’il a toujours été un espace d’avant- garde, de travail créatif, de résidence, de réunion et de circulation des idées, non une galerie d’exposition, un musée ou similaire. Et c’est la raison pour laquelle les artistes doivent pouvoir aujourd’hui continuer à y vivre et à y travailler. L’empêcher, comme fait la Régie qui prétend « reprendre le local », c’est détruire son identité historique, trahir sa vocation. Et quant à l’expression « reprendre le local » elle n’est qu’une terminologie administrative et expéditive et sans visage. Le Bateau Lavoir n’est pas un local quelconque, c’est un espace. Il faut interroger le langage et décoder ses perversions.
Il faut surtout résister au démantèlement et au massacre du vieux Paris, préserver l’héritage, avec la mobilisation des gens du quartier de Montmartre, qui a déjà donné ses fruits dans le passé. Sans elle, le Moulin de la Galette ne serait plus là.
Et ce n’est pas une vision nostalgique. C’est l’avenir qui est en cause. Tout le monde est tributaire de son passé. Picasso n’aurait peut- être pas exécuté les Demoiselles d’Avinyo, ou alors les aurait exécuté autrement, s’il n’avait pas fait la connaissance des masques de l’art nègre au musée du Trocadéro, s’il n’avait pas vu les sculptures ibériques du Louvre, ou s’il n’avait pas, au-dessus du Val d’Andorre, partagé pendant quelque temps la vie des paysans de Gosol, aux traits somatiques fort marqués, les grands méplats de leurs visages découpés, ou encore s’il n’avait pas vu les « Grandes baigneuses » de Cézanne ou le « Bain turc » de Jean- Dominique Ingres…s’il n’avait pas vu, connu…ceci…cela, que sais-je encore? D’après Sartre, l’enfer c’est les autres, mais alors, dans ce cas, c’est un enfer nécessaire, incontournable. Tout le monde est tributaire de tout le monde. Et pas seulement en Art.
En 1972, l’Unesco a adopté la « Convention et les recommendations relatives à la protection du patrimoine culturel et naturel », ratifiée par la France. Or, c’est la notion même de patrimoine qu’il convient d’expliciter davantage pour mieux comprendre combien le Bateau Lavoir est l’affaire de Montmartre. Il a dépasse depuis longtemps les limites des murs d’une bâtisse et a su construire, au long des décennies des liens profonds, des capillarités avec l’environnement social et urbain. L’esprit du Bateau Lavoir est inséparable du tissu de Montmartre dont il s’est nourrit et qu’il a nourri à son tour. C’est pourquoi toute agression à cette vocation, quelle que soit la forme, le blessera à mort, ainsi que le quartier dont il fait partie. Si l’on ne comprend pas ça, on n’a rien compris. Aucune manœuvre de diversion ne pourra pas l’éluder.
La notion de patrimoine a, en effet, évolué. Elle doit être prise dans un sens plus étendu. Il n’est plus question d’un patrimoine qui se limite aux données architecturales d’un édifice ou d’un monument. Ce serait les chosifier et les dévitaliser. Des édifices dont on autorise par ailleurs, non rarement, la destruction, s’ils sont moins monumentaux ou moins historiques ! L’important ce n’est pas de savoir s’ils datent d’avant ou d’après 1850. La dite noblesse de l’âge n’a pas de monopole. Ce qui compte c’est leur statut acquis, gagné, reconnu. La Gare d’Orsay fut sauvée de justesse. Le patrimoine doit donc s’élargir à l’atmosphère urbaine environnante, il doit aller dans le sens du projet local (il progetto locale) dont parle Magnaghi. Rien à voir avec le culte des monuments. C’est en termes d’anthropologie de l’espace que ces questions doivent être comprises et le Bateau Lavoir ne fait pas exception. Séparer ces problématiques de celles de l’urbanisme est une maladie infantile du patrimoine. Et un anachronisme.
Lisbonne 2008
António Branquinho Pequeno (ULHT)
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