quem somos

QUEM SOMOS







O Casa Amarela 5B -Jornal Online surge da vontade de vários artistas, de, num esforço conjunto, trabalharem no sentido de criar uma relação forte com o público e levando a sua actividade ao seu conhecimento através do seu jornal online.

Este grupo de artistas achou por bem dedicar o seu trabalho pintorNelsonDias, https://www.facebook.com/pages/Nelson-Dias/79280420846?ref=hl cuja obra terá sido muito pouco divulgada em Portugal, apesar de reconhecido mérito na banda desenhada, a nível nacional e internacional e de várias vezes premiado em bienais de desenho e pintura.


Direcção e coordenação: Maria João Franco.
https://www.facebook.com/mariajoaofranco.obra
contactos:
franco.mariajoao@gmail.com
+351 919276762


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Thursday, October 20, 2011

Fórum Actor Mário Viegas,



Programa Cultural para o dia 21 de Outubro de 2011



Apresentação do Livro de Domingos Lobo
"A Pele das Sombras"
21 de Outubro, sexta-feira às 21:30





"PARA DOMINGOS LOBO, NESTE "A PELE DAS SOMBRAS", O POETA TEIMA EM REALIZAR-SE ONDE A REALIZAÇÃO NÃO É POSSÍVEL;
A DE NASCER PORTUGUÊS E NÃO SABER SER OUTRA COISA, POIS COMO AQUILINO RIBEIRO VIU UM DIA: A NOSSA LÍNGUA É UM MAUSOLÉU SUMPTUOSO ONDE QUEM LÁ CAI FICA PARA SEMPRE.
ESTE "A PELE DAS SOMBRAS" É UM BOM MOMENTO PARA AS LETRAS PORTUGUESAS." Alfredo Vieira
O Ribatejo, o Tejo e as vozes poéticas que o afirmam, passam também por esta poética das emoções e do lirismo.
Domingos Lobo venceu, em 2009, com a peça NÃO DEIXES QUE A NOITE SE APAGUE, o Prémio Nacional de Teatro Bernardo Santareno.



Contamos com a sua presença!

Divulgue e participe!

A Cultura é de todos e para todos.



O Fórum Actor Mário Viegas,
do Centro Cultural Regional de Santarém,
Está equipado com sistema de som e projecção
Multimédia Gentilmente cedido pela:


A empresa Fiança Apoia o CCRS com o prestimoso reparo
do telhado do nosso Edifício-Sede, graças ao qual
o CCRS pode agora desenvolver a sua actividade cultural
com mais dignidade.









Centro Cultural Regional de Santarém
Fórum Actor Mário Viegas
MORADA:Rua Dr Joaquim Luis Martins 162000-141 SANTARÉM

TELEFONE:
243 327 164
EMAIL:

por email

Monday, March 28, 2011

Sem arte não há vida




ENTREVISTA A MARTIN CHIRINO Javier López Iglesias


in http://www.hoyesarte.tv/?pid=86&pid=86


“Sin arte no hay vida” “El viento me marcó desde niño. Aquellos alisios soplando sobre mi infancia han sido determinantes en mi vida y en mi obra”. La idea de que todas las figuras, todas las esculturas, están escondidas en la naturaleza: en el interior de la piedra, en el núcleo del hierro, en el tronco de madera, en el barro… y que sólo hace falta tiempo, viento y la ayuda de la mano de la mano del hombre para desenterrarlos y sacarlos a la luz, cobra todo su sentido en Martín Chirino (Las Palmas de Gran Canaria, 1925). Sus obras reflejan la sutil comunión, equilibrio, entre lo que la creatividad del artista imagina y lo que el entorno, la naturaleza y sus elementos sugieren. Se manifiesta reflexivo: “el pensamiento es un elemento esencial de la cultura y de la existencia, también de la del artista”. Convencido: “sin arte no hay vida”, “ sin libertad, que tiene un previo que es la tolerancia, no se puede realizar nada” y, al cabo, realista: “ me apena que el tiempo sea tan corto. Se que estoy en la recta final, en la fase de desandar, desoir,, deshablar, pero sigo activo, de otra manera, pero activo”.


"Sem arte não há vida"


"O vento me marcou como uma criança. Os ventos alísios sopram em minha infância ter sido decisivo na minha vida e meu trabalho. " A idéia de que todas as figuras, todas as esculturas estão escondidos na natureza: no interior da pedra, o núcleo de ferro, tronco, madeira, barro ... e que só tem vento, tempo e a mão da ajuda da mão do homem para desvendar e levá-los à luz, entrar em seu próprio em Martin Chirino (Las Palmas de Gran Canaria, 1925). Suas obras refletem o equilíbrio sutil entre a comunhão a criatividade do artista e imagina o que a natureza, meio ambiente e seus elementos sugerem.Manifestos reflexivo "pensar é um elemento essencial da cultura e da existência, também do artista." Convencido de que "não há vida sem arte", não é livre, que tem uma prévia que é a tolerância, você não pode fazer nada "e, afinal, um realista:" Lamento que o tempo é tão curto. Eu sei que estou na reta final na fase de refazer, ignorar, deshablar, mas ainda está ativo, caso contrário, mas ativa. "


http://http//www.hoyesarte.tv/index.php?op

Sunday, March 6, 2011

A "matéria prima"


Eduardo Prado Coelho, antes de falecer (25/08/2007), teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos!



Precisa-se de matéria prima para construir um País
Eduardo Prado Coelho - in Público
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.
Agora dizemos que Sócrates não serve.
E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhãoque foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais
poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL,DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa,como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porqueconseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país:
-Onde a falta de pontualidade é um hábito;
-Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
-Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.
-Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
-Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memóriapolítica, histórica nem económica.
-Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicaspodem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.
-Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.
-Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
-Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...
Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa ?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror ?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados !
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimentocomo Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:
Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e,francamente, somos tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir)que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.
AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.
E você, o que pensa ?... MEDITE !
EDUARDO PRADO COELHO

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Saturday, February 19, 2011

Casamento militante nos Passos do Concelho de Montpellier

Um casamento que não é um casamento, porque é um casamento puramente simbólico, militante e que confirma a vontade e a coragem duma autarca francesa – Hélène Mandroux, Presidente da Câmara Municipal de Montpellier, cidade de 420 000 habitantes - na defesa da igualdade de direitos para homossexuais e heterossexuais.

Chocada com a atitude das autoridades diplomáticas portuguesas ao recusarem proceder ao nosso casamento em conformidade com a lei portuguesa, a Sra. Presidente disse SIM, em directo da Divergence FM de Montpellier, quando aceitamos a sua proposta de nos casar simbolicamente nos Passos do Concelho de Montpellier, com o duplo intuito de apoiar os nossos direitos legais e de fazer avançar o seu próprio combate pela legalização dos casamentos de pessoas do mesmo sexo em França que encetou em 2009 com o "Apelo de Montpellier" que já foi assinado pela maioria dos presidentes de câmara das principais cidades francesas.
Tito-Livio e Florent têm pois o prazer, a felicidade e a alegria de convidar todos os amigos da liberdade e da igualdade para este acontecimento simbólico mas militante e político e que esperamos venha a ser também poético...
Sábado, dia 5 de Fevereiro, às 11 horas, salle des mariages, no Château de Grammont, Tito-Livio e Florent vão-se dizer mutuamente "sim", mesmo se já o disseram há 25 anos atrás (enfim)...
Será uma cerimónia republicana, entre outros casamentos legais, esses, que não temos a intenção de perturbar.
E é por isso que, na sala anexa, uma vez o protocolo respeitado, a Sra. Presidente, Tito-Livio, Florent e representantes de associações gays francesas farão uma conferência de imprensa, política e poética, seguida dum Porto de Honra, oferecido pela Câmara Municipal da Cidade, para responder às perguntas que jornalistas e amigos quiserem fazer.
E, porque não há casamento sem boda, à noite, a partir das 19 horas, na mesma sala em Grammont, convidamos todos os que queiram para uma grande festa, musical e alegre (gai).
Programa da "boda"DJ : JO Romano e Bruno Bertrand da equipa da rádio Divergence FM,E uma pequena ementa preparada por membros da Casa Amadis, a associação cultural de língua portuguesa de Montpellier...

Contribuições em géneros e bebidas serão bem vindos.
Tito-Livio SANTOS MOTA
Presidente de Casa Amadis
Florent ROBIN
Presidente da Divergence FM
MJF/por email

Friday, August 29, 2008

Futebol::outros olhares...

Futebol: o bobo do festim?
O futebol é um jogo magnífico. E jovem. Só que o seu maior problema hoje não está no entanto nos perdedores, mas sim nos predadores. As hienas e os chacais, por todo o lado à sua volta, devoram-no. Procuraremos ver mais à frente porquê e como.
Muitas são as modalidades desportivas, como é sabido, umas com mais história que outras. O atletismo e o boxe vêm de longa data, atravessaram desde a Antiguidade toda a Idade Média e a Renascença, até aos nossos dias. O boxe já estava presente nos Jogos Olímpicos da Grécia em 689 a. C., enquanto que o futebol, tal como o conhecemos, é uma criação inglesa do séc. XIX, mais exactamente de 1848. Ele inclui-se nos jogos de equipa da modernidade industrial, tal como o rugby, o handeball, o basketball e o hockey. Embora não seja um desporto de combate, para lá caminha!
0 primeiro Mundial de futebol teve lugar em Montevideu, em que o Uruguai bateu a Argentina. Seguiram-se os de 1934 e de 1938. Um desporto que se tornou nas últimas décadas a expressão mais acabada da “Sociedade do espectáculo”, para utilizar o título consagrado de Guy Debord. Empolado pela comunicação televisiva, ele é hoje, em directo, o maior espectáculo de massas do planeta. Bem antes dos jogos, logo se começam a explorar obsessivamente as emoções e as expectativas em sequências fílmicas inacreditáveis, no pormenor, no limite do anedótico, tal como foram apresentadas nos canais portugueses em Junho último, em Lisboa, no Europeu 2008, quando da recepção da Selecção em Belém pelo presidente da República, antes da partida para a Suiça: o percurso dos jogadores de autocarro, o aparato policial, a cobertura jornalística a martelar passo a passo as etapas e, já em Belém, a fotografia de família com Scolari e toda a equipa, o Presidente a cumprimentar um por um todos os jogadores e demais elementos. No exterior, muitos populares, as crianças também presentes, que é de pequenino que se torce o pepino. Mais tarde, é o filme da chegada a Neuchâtel, onde um perseverante contingente de emigrantes portugueses já esperava a comitiva e é de novo que assistimos ao Portugal das bandeirinhas. É digno de nota o apego desses imigrantes que foram forçados a abandonar a terra, uma derrota mais que a Pátria lhes infligiu e impôs embora posteriormente, com sacrifício, tenham acabado por daí tirar alguns dividendos, e não só financeiros. As pulsões primitivas em torno do futebol são efectivamente contrárias à reflexão desapaixonada e ao distanciamento. Daí, ser este desporto terreno de eleição de nacionalismos estreitos e exacerbados, o que a linguagem dos adeptos só confirma, do tipo: “Scolari amigo, nós, os verdadeiros patriotas, estamos contigo/ Ele (Scolari) fez despertar em nós o orgulho de ser portugueses/Vamos vencer e erguer a bandeira de Portugal”. Por outras palavras, esse orgulho só se desperta com futebol! Parece aliás que pouco mais que isso temos para exportar. Para além da identificação da Pátria a Scolari, essa linguagem significa ainda que quem não é por ele também não está com ela. Ora, isto não é apenas redutor, é fascizante. Quanto à bandeira bem erguida, basta olhar os maus tratos que tem recebido, alpendorada onde menos se esperava, nos estendais de roupa das varandas, misturada com ceroulas e fronhas, perdido o estatuto que é o seu, sem que a República e a Presidência pestanejem porque vergadas aos dividendos políticos do populismo patrioteiro.
Mas não data de hoje a propaganda e o aproveitamento político do futebol. Um prato de que todas as ditaduras se serviram, tanto a Oeste como a Leste, condimentado à maneira com as receitas da casa. Valerá a pena voltar um pouco atrás, quando em 1962 o Benfica venceu em Amesterdão a final da Liga de Campeões por 5-3 contra o Real Madrid, na presença de 65.ooo espectadores. E foi o primeiro confronto europeu da história das duas equipas. Do lado de cá, José Augusto, Eusébio (que marcou 2 golos), Águas, Coluna (o moçambicano do médio campo) e Simões, entre outros. No Real Madrid, Di Stefano, Puskas, Gento e Santamaria nomeadamente”. Um Benfica que aí ficou bi –campeão, pela mão de Béla Guttman, o treinador magiar da escola austro- húngara. Salazar, ao receber a equipa de regresso, cumprimenta Eusébio, que passa a fazer parte do património nacional e que, como tal, não se exporta, portanto não sai do país. Coube a Américo Tomás fazer o elogio da proeza desses jogadores benfiquistas. Um elogio nada gratuito. A razão primeira é que na Selecção se irmanavam Portugal e África, Metrópole e “possessões” ultramarinas, depois chamadas “províncias”. De notar aqui o eufemismo, havendo sempre que interrogar a linguagem e as terminologias. O termo, demasiado carregado, foi substituído, embora se tratasse efectivamente de possessões. Não era a Guiné dessa época como que uma propriedade da Companhia União Fabril (CUF)? Noutros contextos, também o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) passara a chamar-se, depois de 1944, Secretariado Nacional da Informaçao (SNI). Mas voltemos ao jogo contra o Real Madrid. O que importa frisar em termos de propaganda multiracial é que na equipa portuguesa figuravam negros e brancos, o que foi uma novidade no contexto europeu, muito embora Otto Glória já nos anos 50 se socorresse do futebol africano e sem esquecer que Costa Pereira e Hilário eram, também eles, moçambicanos. O “Vasco da Gama” foi o primeiro a contratar negros e mulatos, mas isso era no Brasil (Cf. Campeonato Carioca de 1923). Nicolino, Arlindo, Nelson e Torterolli foram, entre outros, os primeiros negros da história a conquistarem o título. Por outro lado, o “Vasco da Gama” era o mais português dos clubes brasileiros. Noutras latitudes, quanto aos jogadores africanos das equipas inglesas desse período, eles eram brancos. No caso português, a vitória de Coluna e de Eusébio no referido jogo histórico contra o Real Madrid foi pois aproveitada para enaltecer a imagem da Nação portuguesa de aquém e além – mar, à revelia das taras do salazarismo. E tudo correu como previsto, “portaram-se bem”, contrariamente à atitude independente dos negros americanos Tommie Smith e John Carlos quando alguns anos mais tarde, em 1968, nas Olimpíadas do México, depois de receberam as medalhas no pódio, levantaram o braço com mão coberta por luva negra e punho cerrado, a saudação “black power”, em sinal de protesto contra a segregação. Eusébio nem sequer sabia exactamente o que lhe estava a acontecer quando lhe vestiram a pele de herói “nacional”. A rentabilização dessa vitória da Selecção contra a Espanha não se ficou por aqui: os jogadores partiram depois em digressão pelas colónias onde foram recebidos em apoteose! A perversidade era tanto maior quanto a homenagem a Eusébio não foi feita enquanto moçambicano mas como português. Que isso fosse do seu agrado ou não, não interessa agora. O que importa salientar é que a africanidade do jogador só tinha sentido no seio da Nação e do Império. Já dizia o jogador húngaro José Nazazi, duas vezes campeão do mundo, que a equipa nacional era a própria Pátria. Isto leva-me a pensar nas palavras de Albert Memmi quando referia em 1957 que “é o colonialismo que cria o patriotismo dos colonizados”. Quanto a Eusébio, a sua imagem só era aproveitável através do branqueamento da lusitanidade, sendo o desporto aqui manipulado pelo Estado para manter a coesão nacional dentro do império. As vitórias do Benfica em muito serviram para doirar uma imagem e legitimar um governo que tudo fez para o conseguir - mesmo tendo obviamente consciência de estar na pele do usurpador - não hesitando em falsificar a história, inverter as ópticas e valorizar os seus próprios méritos, fazendo de Eusébio uma criação portuguesa, tal como o fez com outros. Dito por outras palavras, se o jogador tivesse ficado por África nunca seria o Eusébio. É assim que o colonialista reflecte: tirar partido do outro para enaltecer os méritos próprios. O sucesso desportivo de 1962 caiu como uma dádiva inesperada, dado que no contexto de turbulência politica dos anos 60, o regime afrontava dificuldades. As fragilidades do sistema começavam seriamente a desenhar-se. Os tempos eram outros. A manobra de diversão consistiu em desviar para a Final da Liga a atenção dos problemas reais, internamente como à escala internacional.
O futebol não é o fado, são radicalmente outras as valências da modalidade desportiva, mas Amália Rodrigues, no registo que era o seu, também foi um símbolo nacional e, como tal, não deixou também de ser uma embaixadora da canção aproveitada pelo salazarismo. Não terá sido apenas pela sua voz e perfil fadista que acabou por ter lugar no panteão nacional. Em contrapartida, a memória do grande romancista Aquilino Ribeiro foi alvo de injustificada polémica, quando da trasladação das suas ossadas em 2007 para esse mesmo panteão, ou seja, para a igreja de Santa Engrácia.
E quais eram as fragilidades do império nesse início dos anos 60? Aproveitarei para fazer uma digressão de modo a enquadrar, no contexto da época, alguns dos sintomas dessas fragilidades: De Gaulle, em França, falhada a solução militar na Argélia (“Départements d’Algérie) acabava de negociar os “Acordos de Evian” (Março 1962) que puseram fim a 7 anos de guerra e que levaram à independência alguns meses mais tarde. Feridas que ainda não estão de todo cicatrizadas. Ora, foi no preciso momento em que os Franceses saíram de campo, que Portugal inicia a sua última guerra colonial, e isto muito depois de os dados da mudança já terem sido lançados e o aviso já ter sido dado bem antes, na Conferência de Bandoung, na Indonésia, em 1955. Apesar de o xadrez político dos participantes a esta conferência ser algo heteróclito e apesar das realidades futuras terem ficado muito aquém das expectativas que as resoluções finais indiciavam, foi em Bandoung que pela primeira vez se reuniram 29 países da África e da Ásia sem a presença das grandes potências. Europa, União Soviética e Estados Unidos ficaram de fora. Uma viragem, um novo modelo nas relações internacionais, um novo espírito. E ficou afirmado nessas resoluções o combate a todas as formas de colonialismo e considerada a submissão ao jugo estrangeiro uma violação dos direitos fundamentais contrária à Carta das Nações Unidas e um obstáculo a paz mundial. Estava lançado o repto. No ano seguinte, em 1956, assiste-se à invasão dos tanques soviéticos em Budapeste e ao alinhamento dos partidos comunistas ortodoxos com Moscovo, com as consequências que daí resultaram e que não cabe agora aqui equacionar. Muitos intelectuais logo tiraram as suas ilações. Foi o caso de Sartre, que publica em 1957 o ”O colonialismo é um sistema”, texto fundador, em que o colonizado - e não apenas o proletariado - surge como o novo protagonista da História e em que se afirma sem ambiguidades que a revolta é a única saída. Temas estes, cujos envolvimentos à escala internacional mereceriam todo um capítulo. Desse mesmo ano data um outro texto notável (1957), “O retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador”, do tunisino Albert Memmi atrás referido. Um ano depois, em 1958, a Guiné -Conacry diz não a De Gaulle e torna - se independente. Em 1960 surge o “Manifesto dos 121” signatários, encabeçado por Sartre, no qual se promove o apoio à resistência contra a guerra da Argélia, se justifica a recusa de pegar em armas, pela causa de todos os homens livres e se abre caminho à deserção das fileiras. Um texto - manifesto importantíssimo porque dessacralizou a obediência às Forças Armadas e impunha a revolta, quando essas forças violavam sistematicamente os direitos fundamentais. Uma postura que era um direito, mas também um dever, mesmo que à margem dos aparelhos políticos oficiais, nomeadamente do PC francês e da Argélia francesa. Que se releiam os textos de Sartre activista político e as suas considerações sobre a gangrena da tortura imposta aos combatentes argelinos do FLN. De 1960 datam também um grande número de independências africanas, nomeadamente: Dahomey (Bénin), Costa do Marfim, Alto Volta (Burkina Faso), Mauritânia, Níger, Senegal, Congo, Gabão, Tchad, Togo, Camarões, Madagáscar, e a lista não está completa. Depois da retumbante derrota militar francesa de Dien Bien Phu de 1954 na Indochina, as soluções políticas, em 1960, eram a única alternativa. É o fim da ”Comunidade francesa”, a queda do Império e o aparecimento de uma nova cartografia politica, embora o neo - colonialismo tivesse conseguido manter muitos dos seus interesses geo-estratégicos e económicos. Em 1961, Sartre prefacia os “Damnés de la Terre” de Franz Fanon. E em 1962 é a independência da Argélia.
Ora, Salazar tudo isso ignorou, orgulhosamente só, tendo de imediato optado pela solução militar, levada a cabo por um pais bem menos poderoso que a França. E não era só internacionalmente que as coisas não corriam de feição para o salazarismo no início da década de 60. Também no plano interno se abriam brechas. Em 1961, Palma Inácio regressa a Lisboa desviando um avião da TAP e tem lugar o assalto ao paquete “Santa Maria” numa operação de comando, muito mediatizada, chefiada por Henrique Galvão. Ora, Galvão (1895- 1970) não era um personagem qualquer: foi inspector superior do Ministério das Colónias onde colaborou com Marcelo Caetano. Após ter servido o regime (tal como o serviram até certo momento, embora noutros moldes, e ressalvadas as diferenças, os oficiais de carreira Humberto Delgado e Salgueiro Maia, entre tantos) passou a contestá-lo a partir de 1947, ano em que apresenta à Assembleia Nacional um aviso prévio sobre o trabalho forçado nas colónias. Preso, acaba por evadir-se em 1959 do Hospital de Santa Maria e, já exilado no Brasil, lança a obra colectiva “Colonialismo, Anticolonialismo e Autodeterminação”. Nesse mesmo ano de 1961, militantes nacionalistas angolanos, após a criação do MPLA em 1960 (Em 1956 são apenas os prolegómenos ) investem a prisão militar de Luanda. Sem esquecer a rebelião- chacina da UPA de Holden Roberto no Norte de Angola. Ainda em 1961,Goa, Damão e Diu foram ocupadas pelas tropas da União Indiana. E dá-se o golpe de Beja, que fracassou. Em 1962 são as “crises” académicas. Ora, é justamente em 1962 que a Selecção ganha em Amesterdão, o que caiu como a sopa no mel.
Salazar não foi no entanto um caso isolado em termos de aproveitamento politico do futebol. É uma história antiga. Antes dele, fizeram-no o fascismo italiano, o nazismo do III Reich e o franquismo espanhol. O aproveitamento a Leste daria também todo um capítulo.
Para Mussolini, que instala a ditadura em 1925, também um título ajudaria muito a validar o regime. A ocasião surgiu em 1934 quando da vitória da Itália, em casa, no Mundial. Era o próprio Duce a designar os árbitros. E voltou a recuperar o futebol para os seus desígnios quando a Selecção italiana conquistou a Taça seguinte, em 1938
Com um leque desportivo mais alargado, os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 foram presididos e também aproveitados por Hitler. Muita tirania tem sido camuflada sob a égide do desporto. Durante esse evento de 36 foram logo retirados os cartazes anti - semitas. Só provisoriamente. E quem se apercebeu que pouco antes do início dos Jogos, cerca de 800 membros da comunidade cigana de Berlim foram presos e internados num campo especial em Narzahn ?
Do lado espanhol, bem mais tarde, convém assinalar que Franco não permitiu que a Espanha defrontasse a União Soviética no Europeu de 1960, retirando assim o país da competição. É sabido também que o generalíssimo fez do Real Madrid (o clube branco), a sua bandeira e que Di Stefano, praticamente contratado pelo Barcelona, foi compulsivamente encaminhado para o Real Madrid. Mas o Barcelona, trincheira de republicanos e democratas, não se esquece e, um mês após a morte de Franco, a vitória sobre o Real Madrid foi festejada como uma libertação.
Mais perto de nós, as vitórias das Selecções brasileira e argentina, respectivamente nas Taças do Mundo de 1970 e 1978, foram elas também recuperadas pelo sinistro Videla e pelos não menos sinistros militares brasileiros.
Já bem mais perto dos nossos dias, em 2005, duas equipas defrontaram-se no estádio olímpico de Roma. Dum lado, o “Lazio”, do outro o “Livorno”. O primeiro arvorando bandeiras negras, efígies de Mussolini e símbolos nazis (suásticas e cruzes célticas) condimentados com slogans e palavras de ordem do tipo “Itália é nossa”,“Livornense Verme Vermelho” e outros mimos, para além dos coros fascistas. Do outro lado bandeiras vermelhas com foice e martelo, imagens de Che Guevara, enquanto as claques cantavam a “Bandiera rossa”. Cristiano Lucarelli também do “Livorno”, costumava aliás comemorar os golos marcados de braço esquerdo erguido e punho cerrado. Noutra ocasião, pelo “Lazio”, Paolo Di Canio celebrou a vitória contra o “Roma” com a saudação fascista, braço direito estendido para a frente e mão esticada. Ora, seja qual for a cor, o afrontamento em estádios erra sempre o alvo político, é um produto tóxico. É preciso não esquecer que os estádios são hoje, à partida, espaços militarizados, instrumentalizados e minados por outros interesses, o que não deixará de implementar a fascização do desporto e do tecido social no seu todo, e que o hooliganismo, por outro lado, é a negação da política.
Vejamos alguns aspectos desses outros interesses, aquém e além do desporto propriamente dito: no cenário: numa Taça do Mundo, a FIFA pode receber sem dificuldade mais de 1 bilhão de euros só pelos direitos televisivos e pelos patrocínios. E mais de 3 bilhões estarão facilmente associados a uma competição desta amplitude só em investimentos publicitários, o que naturalmente desperta o apetite dos faunos. As instituições desportivas estão controladas por grupos de pressão económicos e poderosas sociedades de management desportivo. Assiste-se à galopante mercantilização dos clubes, alguns cotados em bolsa, mas também dos jogadores, com práticas mafiosas nas suas transferências, facilitadas com a globalização (legislação Bosman de 1995 que liberalizou a circulação dos jogadores). Mercantilização até das mulheres (o caso do tráfico de prostitutas). É este o contexto em que entronca a chamada “crise do futebol”, tal como se poderia falar mutatis mutandis em crise na Saúde ou na Educação. Jogos viciados em Itália, apitos dourados em Portugal, são apenas algumas das manifestações mais visíveis, a ponta do iceberg. Ao deboche mercantil junta-se o mediático e o político. A corrupção na arbitragem é espelho da corrupção da própria Justiça. Neste contexto vampírico do capital financeiro em torno do futebol, não será de espantar assistirmos à militarização das performances e dos resultados, treinos intensivos, exigência de rendimento máximo das equipas, competitividade e eficácia comprada a qualquer preço, corrida ao recorde, timings, medicalização abusiba, dopagem cientificamente assistida, caça precoce de talentos. Uma fábrica de robots, de alienados no corpo e no espírito. Daí à experimentação científica vai um passo. Um futebol cada vez mais distante de uma prática desportiva sadia, que era o seu primitivo estatuto. Saúde no desporto? Que ironia! É certo que os jogadores ganham somas desproporcionadas, mas não esquecer no entanto que a sua esperança de vida profissional é curta. Menos aleatória que a dos toureiros, no entanto. Todo este contexto de submissão do futebol ao capital financeiro retira-lhe, por outro lado, qualquer veleidade de união entre os povos, como se pretende e insinua. O futebol é hoje uma mercadoria transaccionada à escala planetária. Sem pretender fazer essa Sociologia, o engodo dos estádios corre em paralelo com o descrédito nas religiões oficiais, acabando por ocupar estes espaços cada vez mais esvaziados de conteúdo. E com o descrédito na política que, naturalmente, não quer faltar à chamada. “Noblesse oblige”. Nesta final do Europeu 2008 entre a Alemanha e a Espanha, lá estavam na bancada de honra governo e famílias reais de um lado, a chanceler alemã Ângela Merkel, do outro. Quer se goste ou não de futebol, não podiam perder o comboio das massas populares.
A corrida à produtividade nos estádios é indissociável da competitividade global. Daí que o futebol se assemelhe ao teatro da guerra, no relvado como fora dele: pontapés fulminantes dos jogadores, nem sempre na bola, as batalhas campais entre claques e adeptos, dentro e fora dos estádios. Sem falar na guerra de bastidores. Seria fastidioso explicitá-lo no pormenor. Uma linguagem também guerreira, arrogante, neo- liberal, que Scolari representa bem. O “mata - mata” dos jogos decisivos é uma das expressões do “sargentão”, o treinador- pugilista, tal como ficou confirmado quando esmurrou em campo o defesa sérvio Draguitinovic, no final da última partida do Portugal – Sérvia, após a frustração do empate 1-1, à beira dos 90 minutos. O seu pendor arruaceiro e boçal manifestou-se ainda quando chamou filhos da puta a alguns jornalistas. Guerra é guerra. Onde está o “fair play”? Em seu lugar, violências assassinas, quarteirões em estado de sítio. Perante isto, grupos de extrema direita ficam naturalmente com as costas bem mais quentes. É pois pura ilusão neste cenário pretender moralizar a empresa desportiva ou tentar aproximá-la da cidadania. Paralelamente, a corrupção generaliza-se. Que autoridade haverá quando se compram árbitros e treinadores, se falsificam facturas, se encaixam gordas quantias debaixo da mesa, se há mais arguidos reais ou potenciais em torno do futebol do que jogadores? Grandes são as responsabilidades do E$tado.
Adeus cultura da amizade. Como acreditar na horizontalização dos relacionamentos que o futebol veicularia, defendida por alguns teóricos? Convivência multirracial? Daria para rir se não fosse trágico. O adversário virou inimigo a abater, dentro e fora de campo. É a cultura do ódio de que o Ajax (considerado a equipa da comunidade judia de Amesterdão) e o Feyenoord de Roterdão, na Holanda, são bom exemplo. Daí que as novas normas contra o hooliganismo a serem aprovadas pelo Parlamento holandês sejam inspiradas da legislação antiterrorista! Em suma, deste ponto de vista o futebol é um agente de dessocialização e de egoismos tribais, não raramente associados ao alcoolismo das claques. O Estado não tem mais o monopólio da violência. Tal como o terrorismo internacional, ele está fora de controlo. Curiosamente essa violência nos estádios é em larga medida solicitada e alimentada pelo imperialismo televisivo, ao redimensionar exponencialmente o espectáculo virtual, na corrida às audiências e na manipulação totalitária dos afectos e da emoção, como procurei pôr em evidência mais acima nestas curtas linhas. Aprendizes de feiticeiro que desencadearam forças que não controlam mais. Que belo presente que entregam às novas gerações.
Concluiria que
Não é futebol como desporto em si que está em causa. A modalidade é magnífica. O que o rodeia e o que dele fizeram transformaram-no no entanto num desastre ecológico. Espectáculo de multidões, o mais universal dos desportos. Na final da Taça do Mundo em Julho de 2006, estariam frente ao ecrã televisivo qualquer coisa como um terço da humanidade, representando mais de 200 países, gente que nesse momento não estaria a pensar em mais nada a não ser na bola, o que dá muito jeito a tantos governantes, para além dos interesses negociais. Todos os ingredientes se reuniram para transformar o mais popular dos desportos em teatro catalizador de violências: clãs, claques adeptos, novos rituais e liturgias, cantos, símbolos, brasões, emblemas e camisolas. Não é o totemismo da África profunda mas sim o da modernidade. Sacralização de jogadores (Di Stefano, Pelé, Eusébio, Maradona, Ronaldo e Ronaldo etc.) Um desporto de novos cruzados, heróis duma guerra santa entre equipas inimigas. Decididamente, o sagrado deslocou-se, destronados os antigos deuses, abandonados pelas civilizações. Nos destinos colectivos e nas performances dos ídolos e dos clubes são projectados os destinos individuais de milhões de pessoas. Amar a sua equipa não deixa de ter porém algo de sado - masoquista, pois que num Mundial são sempre mais os que perdem que os que ganham. Os estádios são hoje as catedrais da modernidade, com os seus Papas ( FIFA, UEFA e aparentados ) e com uma vocação apostólica aliás bem mais ecuménica e abrangente, pois que aí não se discute se a pertença confessional é islâmica, hindu, budista, católica, luterana ou calvinista. Haverá excepções, na Irlanda nomeadamente. O que prima no entanto é a fidelidade ao grupo, a pertença ao clube, apesar das clivagens de classe iniciais, nos primórdios do futebol, entre operariado, lordes ou burgueses, futebol amador ou futebol profissional. Canalizam-se para os clubes frustrações partilhadas: You will never walk alone (Nunca andarás sozinho) é slogan do Liverpool e das suas tradições operárias.
Nalguns casos, os próprios locais de culto se futebolizam. Salas de congregação e outras dependências de igrejas luteranas alemãs serviram em 2006 para assistir à exibição das partidas da Taça. Por cá, Scolari alimentou rezas dentro dos balneários antes do início dos jogos. Não ousará certamente fazê-lo agora, no Chelsea. Isso dava para Portugal, não cola no mundo anglicano.
O espectáculo da antiga tragédia grega era benfazejo (Cf. Aristóteles). Ele canalizava para o palco as agressividades, angústias e pulsões mortíferas dos espectadores. Digamos que essa era uma catarse positiva. (catharsis = purificação, sendo os cátaros os “puros”, dizimados pela Inquisição no séc. XIII). No futebol a vertente catártica conduz, em contrapartida, à cultura do ódio atrás referida, à amplificação das paixões e aos fanatismos patrióticos.

António Branquinho Pequeno (ULHT
)

Monday, June 9, 2008

De novo::Rocha de Sousa

Li, no blog do Professor Rocha de Sousa o último post, que me deixou emocionada pela simplicidade e beleza da escrita e pelo conceito nele inserido.
Com o devido respeito passo a transcrever:
"Eu sou do tempo em que os pobres liam às escondidas «Quando os Lobos Uivam». Os operários corticeiros, mal pagos e penosamente infiltrados por companheiros comunistas, quase todos na clandestinidade, liam mais do que se lia na altura, porventura mais (até) do que hoje. No maior centro da indústria corticeira do mundo, com bairros precários e casas vindas directamente do tempo da ocupação árabe, o Maio festejava-se através de viagens fluviais, operários e camponeses bem munidos de farnéis partilháveis, idas e vindas em longas barcaças a motor, transportando entre cinquenta a sessenta pessoas, a deslizar sobre águas lisas, pouco tempo depois aportando a alguns dos muitos ancoradores das margens frondosas, lugares privados mas que os donos franqueavam aos visitantes, toda a gente estendida com mantas ou tolhas, afeita a essa vida sem televisão, pouca rádio, nem carros, nem combóios perto, a rua usada pelos meninos ladinos, jogando jogos simulados de toscas memórias do velho cinema instalado num teatro velho.
Quando a indústria da transformação da cortiça foi destruída pela livre exportação das grandes pranchas de cortiça, levadas da árvore para os cargueiros apontados à América, logo as fábricas começaram a fenecer, a falir honestamente, ou a incendiar-se não se sabe como, cortiça é pólvora, arde e faz arder instalações inteiras, no horror sempre nocturno das famílias cujo destino, assim, em duas horas, estava traçado no desemprego e nas dolorosas migrações para o Norte, operários altamente qualificados reduzidos à precariedade crescente, que haviam feito a sua aprendizagem na Escola Comercial e Industrial, que liam Aquilino, Gorki, Redol. O meu próprio pai, cujo negócio da cortiça era estreito e manual, ficou a viver da compra e venda, dos restos, de um jovem corticeiro que o via como avô, leal até ao fim.
Foi nesse tempo, apesar de muito novo, que eu senti aquela escassez de que tanto já ouvira falar.
Foi então que eu convivi, mais de perto, na rua e na Escola Pública, com moços exilados, à espera de que os pais os mandassem chamar, pobres, pedintes, por vezes prematuramente bebedores de vinho tinto, aos copos de três. Com o decorrer dos anos, já em Lisboa, estudando em Belas- Artes por complacência de uns tios, fui conhecendo sempre pobres, do Barreiro ao Seixal, nas docas, nos chamados bairros populares, entre sardinhas, couves e batatas, vinho sempre, velhos sem assistência, jovens sem material para as aulas, risos aqui e além, em todo o caso, situação nem sequer rara e que os vendedores de rua (pobres) classificavam de «pobretes e alegretes».
Estive em Angola, na guerra colonial, numa companhia quase toda constituída por alentejanos, sábios da planície e da pobreza, audazes, metidos em operações militares cujo fim desconheciam e nas quais procuravam, antes do mais, salvar a pele. Daí em diante, nunca mais deixei de conhecer pobres, manchas de pobreza, vida singela porque mais barata, e um velho ditador que tomava medidas drásticas, na altura profundamente retardantes da evolução do país, e que hoje, na mera ironia de sentido analógico, por outras razões, bem entendido, parecem emergir, urgentes e modernas, do campo raso, abandonado, dos barcos roubados à pesca, das profundas tradições ou géneros de produção que a indústria, outrora minimizada pelas repartições do Estado Novo, depressa queimou, fugindo entretanto para as terras frias da mão de obra barata.
Um povo assim, que teve de emigrar para sobreviver, ou para se parecer um pouco com os ricos surgidos em tudo o que era documento, não teve outro remédio senão aceitar durante catorze anos uma guerra mal concluída, da qual surgiu um mal gerido golpe revolucionário, que trocou bens, saneou gente errada, perdeu património um pouco por toda a parte, desbaratou o dinheiro numa falsa redistribuição das riquezas, sem descobrir, feitas as contas, o verdadeiro modo de oferecer aos homens um destino mais digno e objectivos sem o peso da ganância, algo capaz de conter a fúria do capital a inchar, entre a desordem das grandes cidades e a imensa pobreza que não tem cessado de crescxer à nossa volta e no mundo.
Por tudo isto, e pelo comportamento clubista dos partidos políticos, males «menores» da democracia, foi para mim surpreendente a redescoberta do tema dos pobres nesta nação de ferraris, juncada de milhares de marinas onde acostam mais outros tantos milhares de veleiros, barcos de recreio, uma enorme riqueza que, se fosse confiscada pela revolução outra vez, nos daria um lugar economicamente honroso na Europa. Mas sem marinas e conservando alguns campos de golfe. O futebol, que é cada vez mais caro e nos tem acompanhado até à neurose, poderia encurtar, em vez de crescer, o que viria favorecer, com entidades sérias e coordena-doras, melhores hipóteses de investir em nome da pacificação dos eleitos, dos homens futuros, cada vez em medida mais certa na própria ordenação do território e do enquadramento das populações, do trabalho, das verdadeiras interacções, incluindo o processo energético.
O partido socialista parece ter ficado um pouco magoado com os devaneios poéticos do seu popular Manuel Alegre. Porque foi comiciar ou conviver com as esquerdas, aqueles grupos heterógeneos que, se forem compelidos a tomar uma decisão difícil, ficam congelados numa asssembleia geral, com pontos de ordem, requerimentos e propostas, até uma qualquer madrugada de um qualquer amanhã. Passei por isso, entre pobres e remediados. Em geral, nas manifestações de duzentas mil pessoas, a alfabetização política e social não passa de 0,5%, o que se avalia ouvindo, durante a passagem do cortejo, o que dizem os indivíduos: não sabem nada de nada, só sabem que querem ser menos pobres, poder fazer férias fora do país, e gritar com toda a fé que o Sócratas é um mentiroso. Sem mais nem projecto alternativo. Terão sido estes temas que as esquerdas ligadas às esquerdas, minadas por alguns direitistas da televisão, foram tratar no Trindade? Era bonito fazer essa pedagogia. Era bom falar sem clubismos, facciosismos ou fundamentalismos. Coisa que, segundo Manuel Alegre, em nada afectou a harmonia das reflexões produzidas. Ele próprio fez um discurso de poeta, levemente panfletário e demagógico, mas bonito, pronto para a época das searas. As pessoas espantam-se de não ter saído afinal nenhuma alternativa substancial e boa daquele encontro de inteligências das esquerdas variadas. Mas esse não era, porventura, o objectivo. E qual era o objectivo: perceber o fenómeno da pobreza? Perceber os projectos enganadores de Sócrates? Nada se decidiu, de facto, o que as pessoas queriam era estarem juntas, sentir o desejo esquerdo dos outros, fluir, encantar, perceber pelo olfato o afecto entre os suores da vida. Depois ouvi a entrevista do Manuel Alegre, pessoa que muito admiro, e percebi que o entendo como figura a caminho da história, alguém que merece respeito, um homem que gosta de ser livre para estar onde lhe apetecer. Mas até ele precisa de merecer o lugar que lhe concederam. Apeteceu-lhe ir ali - e foi. Penso, penso, e fico com a impressão de que a humanidade (incluindo Portugal) não está boa da saúde, perdeu o sentido das causas e vergou-se à canga da globalização. Se as esquerdas integrarem os pobres, mesmo analfabetos, talvez passem do Trindade para umas barcaças Tejo acima, partilhando alegrias, tristezas, ignorâncias, palavrões. Depois façam um lanche onde ainda houver relva. E mereçam-no." in DESENHAMENTO_Rocha de Sousa
M.J.F.