quem somos

QUEM SOMOS







O Casa Amarela 5B -Jornal Online surge da vontade de vários artistas, de, num esforço conjunto, trabalharem no sentido de criar uma relação forte com o público e levando a sua actividade ao seu conhecimento através do seu jornal online.

Este grupo de artistas achou por bem dedicar o seu trabalho pintorNelsonDias, https://www.facebook.com/pages/Nelson-Dias/79280420846?ref=hl cuja obra terá sido muito pouco divulgada em Portugal, apesar de reconhecido mérito na banda desenhada, a nível nacional e internacional e de várias vezes premiado em bienais de desenho e pintura.


Direcção e coordenação: Maria João Franco.
https://www.facebook.com/mariajoaofranco.obra
contactos:
franco.mariajoao@gmail.com
+351 919276762


Friday, February 12, 2010

Galeria Municipal Artur Bual/Maria João Franco "esta pele que dispo para nela te envolver"





painel central do "retábulo para altar dos espantos"

vai inaugurar dia 25 de Fevereiro de 2010
a exposição

de Maria João Franco

"esta pele que dispo para nela te envolver"

na Galeria Municipal Artur Bual

Amadora
A mostra encerra a 28 de março de 2010

press
Galeria Municipal Artur Bual – Amadora
Comissário Dr. Álvaro Lobato de Faria –director do MAC – Movimento Arte Contemporânea
Curadora Dra. Margarida Calado – Historiadora – Faculdade de Belas Artes de Lisboa
25 de Fevereiro a 28 de Março de 2010

Texto do catálogo da autoria do Professor Rocha de Sousa (catedrático da FBAUL,Pintor, Escritor, Crítico de Arte (AICA) )

OBRA ENQUANTO VIDA
Foi numa espécie de silêncios ensurdecedores que Maria João Franco sobreviveu, emergiu várias vezes, e solta agora, ao expor mais uma vez, o seu grito de intransigência perante as «forças» que carreiram modos, modas, os autores e ordens em vigor, com frequentes violações do trabalho independente, para a constelação internacional, sucesso a termo, porque outras barreiras selectivas e obscuras existirão neste século.
Desde longa data que Maria João Franco foi dando prioridade a um discurso matérico e de alguma violência, proferido entre uma abstracção de teor expressionista e a convocação rochosa do corpo humano — ou do corpo simplesmente. Passo a passo, o seu imaginário recebia impressões graves do exterior, da experiência exógena, acabando por devolver às mãos da pintora fragmentos amassados na devida maturação, coisas endógenas, reanimações poéticas da morte e da vida. Tais verdades interiores, sempre em transformação mas nunca em ruptura, contrariavam o terreno minado pela cultura urbana, formações espúrias, filiação nos concursos rápidos ou guerra dos prémios. Com a sua arte reaprendemos algumas versões de valor porventura romântico, até de raiz na memória dos clássicos problematizantes, a par de uma afirmação expressionista (da mesma mágoa) assente mo testemunho de outros renascimentos e no sentido da revolta. A manipulação do gesto, abarcando logo grande parte do campo, entra depois no domínio da pasta, matéria acumulada sobre esboços líquidos. Alguns dos quais parecem despontar propositadamente nas zonas onde a autora preferiu aderir à transparência e por vezes, quando acha necessário conter a catarse, a decisão de aplicar mansas velaturas sobre troncos antropomórficos duros, brutais, escultóricos. Essa aparente moderação lírica avança com um brilho baço sobre aquelas carnações decepadas, de largas texturas e aparência lítica.
Esta busca, algo arriscada, passa por matérias e cores sobretudo acinzentadas, exprimindo de facto a pedra da escultura que evoca o corpo, é um trabalho quase contínuo, quase sisifiano, princípio e fim de um todo que também nos pertence, embora sempre nos escape.
Anunciada assiduamente pela sua diversidade, o percurso coerente de Maria João Franco parece abalado, sem que as suas bases se ressintam, dado que esse ponto de vista implica diferença, a simbiose entre diferença e semelhança, o que, apesar de todos os paradoxos, confere uma força inusitada a estas massas onde algum fio de sangue aflora, e mesmo nos casos em que a autora representa (na boa memória académica) os nus falsamente envelhecidos na sua intocável frescura.
A forma plástica, em Maria João Franco, recupera do espaço da memória, da própria dor, com obstinação, a ideia e a imagem do corpo, mesmo quando este não se aperta entre os limites do campo e se projecta gestualmente no espaço. A liberdade do fazer, no acesso a qualquer metodologia e materiais próprios, não isenta o formador de pensar quais as razões da sua luta, quais as razões do seu objectivo, o que implica a criação ou aceitação de limites ou regras. Maria João sabe perfeitamente essa condição, porque a condição sobra mesmo quando traída com talento. Neste caso, a pintora está sobretudo ao serviço de si mesma, legando a alguém, a verdade da obra ser um destino de vida.
ROCHA DE SOUSA

texto de Dra Margarida Calado, Historiadora, Professora da Faculdade de Belas Artes da Faculdade de Lisboa -curadora da exposição

MARIA JOÃO FRANCO
Conheci Maria João Franco como aluna da Escola de Belas Artes, numa altura em que, para além dos alunos em idade escolar, esta era procurada por muitas pessoas que, ou para completarem habilitações ou porque sempre tinham tido um desejo secreto de se tornarem artistas, a procuravam. Maria João vinha dum curso de Arquitectura no Porto, mas efectivamente a pintura era o seu caminho.
Desde então, tenho seguido com algum interesse a sua carreira de artista – mulher – com uma continuidade que nem sempre se encontra no meio das artes plásticas no feminino, não obstante as vicissitudes que a vida lhe tem deparado.
A sua arte é uma arte sofrida, que se a quisermos classificar será de expressionismo, um expressionismo matérico em que o tema dominante é o corpo. Expressando-se através da pintura e do desenho, numa forma que se afasta decididamente de qualquer representação académica, embora o seu ponto de partida seja, efectivamente, o mesmo – o corpo nu – nos seus corpos contorcidos, dolorosos, por vezes apenas evocados numa linguagem quase abstracta, sente-se o pulsar de alguém que não tem tido um percurso de vida fácil.
Os seus nus não são eróticos – pelo menos não os sentimos assim – mesmo quando os títulos das obras o podem fazer supor (Intimidades). Mulheres, muitas vezes assim as percebemos pelos seios caídos de mulheres maduras, pela zona púbica aflorada, por vezes apenas fragmentos evocativos de um corpo – e por isso falamos de uma quase abstracção – evocam essencialmente dor, muitas vezes de evidência física que não é mais do que expressão de uma dor da alma.
Nesta exposição, como acontece na sua obra, aborda também outros corpos, quase silhuetas, de animais, dificilmente identificáveis, talvez feridos, que equacionam memórias pré-históricas no observador (Bestiário). Podem ser cães, lobos – não temos a certeza – mas participam certamente da mesma dor dos humanos.
A opção pela forma do tríptico apresenta-se como uma solução original, de acentuado ênfase religioso, em que duas formas de pintar - a do painel central mais densa, mais escura, também mais dramática – em contraste com as abas, de tonalidades mais suaves, evocando processos do desenho, mas também o contraste dos antigos trípticos do final da Idade Média, entre a cor intensa do painel central e as grisalhas das abas. Os nus das abas, em pose contorcida, trazem por sua vez à memória não a pintura medieval mas Ignudi miguelangelescos, portanto uma época de tensões mais acentuadas, talvez como a nossa (Retábulo para o altar dos espantos).
Há um certo barroquismo na obra de Maria João Franco, pelos jogos de claro-escuro, pelos toques de vermelho que evocam martírios contra-reformistas, mesmo pela densidade matérica que a sua pintura normalmente demonstra.
Maria João é também poeta, aliás quer através da palavra, quer da imagem, a sua obra é poesia no sentido pleno da palavra e aqui não temos de citar Horácio – ut pictura poesis – porque afinal as duas formas emergem paralelamente da actividade criadora da artista.
Margarida Calado
Fevereiro de 2010



LUISA NOGUEIRA em "Mulheres Surrealistas" / Santiago do Chile

Estimadas amigas, aquí les adjunto el link: http://umbralsecreto.blogspot.com/ donde están las fotos de la muestra "Mujeres surrealistas" que está en la Sala de Artes de la Universidad de Santiago.
Este espacio cuenta con mas de 6.000 visitas al mes, y los comenatrios dejados en el libro de visitas son muy buenos.
Felicitaciones a ustedes por vuestro trabajo de innegable calidad.
La mayor parte de los catálogos ya ha sido enviados, por lo que pronto todas debiesen tener sus libros recordatorios.
pronto más noticias sobre las siguientes exposiciones en otras ciudades.
Un abrazo
Enrique Santiago
por email

Pensar os tempos e os porquês... ARTE E GUERRA FRIA



La CIA y el Expresionismo Abstracto
La CIA apoyó el Expresionismo Abstracto americano para conseguir que en la década de
los 50 artistas como Jackson Pollock, Barnett Newman o Mark Rothko aparecieran ante la
opinión pública mundial representando los
valores que "los comunistas nunca tendrían la esperanza de entender: un hombre tiene el
derecho a pintar lo que quiera, cuando quiera y en cualquier estilo de su elección".
Esta es la tesis que en 2001 –aunque algo ya se atisbara en el mundillo profesional– demostró
la investigadora británica Frances Stonor Saunders en su libro La CIA y la guerra fría
cultural (Debate, 2001).


Efectivamente, fue en los 50 cuando los planificadores estadounidenses, que estaban armando
una estrategia mundial contrarrevolucionaria, comprendieron que para alcanzar su meta de
liderazgo mundial había que añadir una dimensión artísticocultural a las directrices económicas y políticas hasta entonces manejadas.

Campaña encubierta
El centro clave de esta campaña encubierta, según la investigadora, fue el Congreso por la
Libertad de la Cultura, creado por la CIA entre 1950 y 1976. En su momento culminante, el
Congreso “tuvo oficinas en 35 países, contó con docenas de personas contratadas, publicó
artículos en más de veinte revistas de prestigio, organizó exposiciones de arte, contaba con su propio servicio de noticias y de artículos de opinión, organizó conferencias del más alto nivel y recompensó a los músicos y otros artistas con premios y actuaciones públicas”, escribe Stonor.
Los planificadores de esta singular “guerra cultural” lograron, sin duda, un gran éxito: la
manipulación y promoción de una de las corrientes del arte de vanguardia de la posguerra, el
Expresionismo Abstracto, como un arma más en una especie de OTAN artística. Porque en su
criterio, la corriente pictórica ofrecía la doble ventaja de ser por un lado auténticamente
estadounidense y, por otra parte, oponerse frontalmente al realismo socialista de manufactura
estalinista.

Thursday, February 4, 2010

Rosa Lobato Faria:"quando descobri que ser livre era acreditar em mim própria"

É com comovida homenagem que dedicamos hoje esta página a Rosa Lobato Faria

"Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.
Não me lamentes.
Eu não me entristeço:ter tido a morte é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu- o único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei."
ROSA LOBATO DE FARIA
poema lido perante o seu altar






"A escritora, letrista e actriz Rosa Lobato Faria, morreu hoje, dia 2, aos 77 anos, depois de uma semana de internamento num hospital privado. Foi colaboradora (dizendo poesias) de David Mourão-Ferreira em programas literários da televisão. Autora, entre outros, dos romances Flor do Sal, A Trança de Inês, Romance de Cordélia, O Prenúncio das Águas, ou mais recentemente A Estrela de Gonçalo Enes (ed. Quasi).

Publicamos aqui a 'autobiografia' que escreveu para o JL há dois anos

Autobiografia
Quando eu era pequena havia um mistério chamado Infância. Nunca tínhamos ouvido falar de coisas aberrantes como educação sexual, política e pedofilia. Vivíamos num mundo mágico de princesas imaginárias, príncipes encantados e animais que falavam. A pior pessoa que conhecíamos era a Bruxa da Branca de Neve. Fazíamos hospitais para as formigas onde as camas eram folhinhas de oliveira e não comíamos à mesa com os adultos. Isto poupava-nos a conversas enfadonhas e incompreensíveis, a milhas do nosso mundo tão outro, e deixava-nos livres para projectos essenciais, como ir ver oscilar os agriões nos regatos e fazer colares e brincos de cerejas. Baptizávamos as árvores, passeávamos de burro, fabricávamos grinaldas de flores do campo. Fazíamos quadras ao desafio, inventávamos palavras e entoávamos melodias nunca aprendidas.
Na Infância as escolas ainda não tinham fechado. Ensinavam-nos coisas inúteis como as regras da sintaxe e da ortografia, coisas traumáticas como sujeitos, predicados e complementos directos, coisas imbecis como verbos e tabuadas. Tinham a infeliz ideia de nos ensinar a pensar e a surpreendente mania de acreditar que isso era bom. Não batíamos na professora, levávamos-lhe flores.
E depois ainda havia infância para perceber o aroma do suco das maçãs trincadas com dentes novos, um rasto de hortelã nos aventais, a angustia de esperar o nascer do sol sem ter a certeza de que viria (não fosse a ousadia dos pássaros só visíveis na luz indecisa da aurora), a beleza das cantigas límpidas das camponesas, o fulgor das papoilas. E havia a praia, o mar, as bolas de Berlim. (As bolas de Berlim são uma espécie de ex-libris da Infância e nunca mais na vida houve fosse o que fosse que nos soubesse tão bem).
Aos quatro anos aprendi a ler; aos seis fazia versos, aos nove ensinaram-me inglês e pude alargar o âmbito das minhas leituras infantis. Aos treze fui, interna, para o Colégio. Ali havia muitas raparigas que cheiravam a pão, escreviam cartas às escondidas, e sonhavam com os filmes que viam nas férias. Tínhamos a certeza de que o Tyrone Power havia de vir buscar-nos, com os seus olhos morenos, depois de nos ter visto fazer uma entrada espampanante no salão de baile onde o Fred Astaire já nos teria escolhido para seu par ideal.
Chamava-se a isto Adolescência, as formas cresciam-nos como as necessidades do espírito, música, leitura, poesia, para mim sobretudo literatura, história universal, história de arte, descobrimentos e o Camões a contar aquilo tudo, e as professoras a dizerem, aplica-te, menina, que vais ser escritora.
Eram aulas gloriosas, em que a espuma do mar entrava pela janela, a música da poesia medieval ressoava nas paredes cheias de sol, ay eu coitada, como vivo em gran cuidado, e ay flores, se sabedes novas, vai-las lavar alva, e o rio corria entre as carteiras e nele molhávamos os pés e as almas.
Além de tudo isto, que sorte, ainda havia tremas e acentos graves. Mas também tínhamos a célebre aula de Economia Doméstica de onde saíamos com a sensação de que a mulher era uma merdinha frágil, sem vontade própria, sempre a obedecer ao marido, fraca de espírito que não de corpo, pois, tendo passado o dia inteiro a esfregar o chão com palha de aço, a espalhar cera, a puxar-lhe o lustro, mal ouvia a chave na porta havia de apresentar-se ao macho milagrosamente fresca, vestida de Doris Day, a mesa posta, o jantarinho rescendente, e nem uma unha partida, nem um cabelo desalinhado, lá-lá-lá, chegaste, meu amor, que felicidade! (A professora era uma solteirona, mais sonhadora do que nós, que sabia todas as receitas do mundo para tirar todas as nódoas do mundo e os melhores truques para arear os tachos de cobre que ninguém tinha na vida real).
Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me, ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido). Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos. Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente, isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo, quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.
Depois foram as circunstâncias da vida. A alegria de mais um filho, erros, acertos, disparates, generosidades, ingenuidades, tudo muito bom para aprender alguma coisa. Tudo muito bom. Aprender é a palavra chave e dou por mal empregue o dia em que não aprendo nada. Ainda espero ter tempo de aprender muita coisa, agora que decidi que a Bíblia é uma metáfora da vida humana e posso glosar essa descoberta até, praticamente, ao infinito.
Pois é. Eu achava, pobre de mim, que era poetisa. Ainda não sabia que estava só a tirar apontamentos para o que havia de fazer mais tarde. A ganhar intimidade, cumplicidade com as palavras. Também escrevia crónicas e contos e recados à mulher-a-dias. E de repente, aos 63 anos, renasci. Cresceu-me uma alma de romancista e vá de escrever dez romances em 12 anos, mais um livro de contos (Os Linhos da Avó) e sete ou oito livros infantis. (Esta não é a minha área, mas não sei porquê, pedem-me livros infantis. Ainda não escrevi nenhum que me procurasse como acontece com os romances para adultos, que vêm de noite ou quando vou no comboio e se me insinuam nos interstícios do cérebro, e me atiram para outra dimensão e me fazem sorrir por dentro o tempo todo e me tornam mais disponível, mais alegre, mais nova).
Isto da idade também tem a sua graça. Por fora, realmente, nota-se muito. Mas eu pouco olho para o espelho e esqueço-me dessa história da imagem. Quando estou em processo criativo sinto-me bonita. É como se tivesse luzinhas na cabeça. Há 45 anos, com aquela soberba muito feminina, costumava dizer que o meu espelho eram os olhos dos homens. Agora são os olhos dos meus leitores, sem distinção de sexo, raça, idade ou religião. É um progresso enorme.
Se isto fosse uma autobiografia teria que dizer que, perto dos 30, comecei a dizer poesia na televisão e pelos 40 e tais pus-me a fazer umas maluqueiras em novelas, séries, etc. Também escrevi algumas destas coisas e daqui senti-me tentada a escrever para o palco, que é uma das coisas mais consoladoras que existem (outra pessoa diria gratificantes, mas eu, não sei porquê, embirro com essa palavra). Não há nada mais bonito do que ver as nossas palavras ganharem vida, e sangue, e alma, pela voz e pelo corpo e pela inteligência dos actores. Adoro actores. Mas não me atrevo a fazer teatro porque não aprendi.
Que mais? Ah, as cantigas. Já escrevi mais de mil e 500 e é uma das coisas mais divertidas que me aconteceu. Ouvir a música e perceber o que é que lá vem escrito, porque a melodia, como o vento, tem uma alma e é preciso descobrir o que ela esconde. Depois é uma lotaria. Ou me cantam maravilhosamente bem ou tristemente mal. Mas há que arriscar e, no fundo, é só uma cantiga. Irrelevante.
Se isto fosse uma autobiografia teria muitas outras coisas para contar. Mas não conto. Primeiro, porque não quero. Segundo, porque só me dão este espaço que, para 75 anos de vida, convenhamos, não é excessivo. Encontramo-nos no meu próximo romance."


in JL newletter,por email