quem somos

QUEM SOMOS







O Casa Amarela 5B -Jornal Online surge da vontade de vários artistas, de, num esforço conjunto, trabalharem no sentido de criar uma relação forte com o público e levando a sua actividade ao seu conhecimento através do seu jornal online.

Este grupo de artistas achou por bem dedicar o seu trabalho pintorNelsonDias, https://www.facebook.com/pages/Nelson-Dias/79280420846?ref=hl cuja obra terá sido muito pouco divulgada em Portugal, apesar de reconhecido mérito na banda desenhada, a nível nacional e internacional e de várias vezes premiado em bienais de desenho e pintura.


Direcção e coordenação: Maria João Franco.
https://www.facebook.com/mariajoaofranco.obra
contactos:
franco.mariajoao@gmail.com
+351 919276762


Monday, February 14, 2011

14 de Fevereiro de 2011

instalação de Júlia e Henrique Regueira


Ando à tua procura, sim .

Nas terras escarpadas que o sol nunca quis.

Nas ruas da vida por onde passei.

No chão negro de terra picado do vento que não te chamou.

Procuro-te, sim!

Nos minutos que perpassam os olhos do pensamento,

nas imagens que navegam

o vazio do meu olhar...
Maria João Franco



Camus [escritor francês (1913-1960)] (fala) do amor como absurdo.
O mito de
D. Juan, analisado por Camus, na minha opinião, exprime a essência do amor que insistimos em vangloriar. Para começar lembra aos mais esquecidos que "se amar fosse o bastante, as coisas seriam simples de mais. Quanto mais amamos mais o absurdo se consolida" (Mito de Sísifo [Lisboa: Livros do Brasil, s.d.], p. 89). Ora, amar é não perceber a vacuidade ilusória de um acto que apenas obedece a um impulso egoísta. É querer perpetuar aquilo que por essência não passa de um mero acaso. Amamos, é verdade. Mas o que amamos afinal? A imagem da mulher que os nossos braços enlaçam, ou a mulher que a nossa imaginação deseja? Difícil decidir, sem dúvida alguma!
Por isso nos lembra Camus que "não é por falta de amor que D. Juan vai de mulher em mulher. É ridículo representá-lo como um iluminado em busca do amor total. Mas é porque ele as ama com idêntico entusiasmo e sempre com inteireza que lhe é necessário repetir esse dom e esse aprofundamento" (p. 89). Se o amor é tão importante que até "faz mover montanhas" e põe os "sinos a tocar tão belos hinos" como pode esgotar-se face a um único objecto de desejo? E a posse desse objecto resolverá só por si a intensidade com que pretendemos amar?
Com a lucidez suficiente de quem sabe que não se morre de amores, pelo menos com muita frequência, continua este autor lembrando que "há quem se espante por D. Juan, quando uma delas refere 'finalmente, dei-te o amor', sorrir dessa ingenuidade. 'Finalmente não', diz ele, 'mas uma vez mais'. Porque seria necessário amar raramente para amar muito?" (p. 89).
O absurdo é apenas a lembrança de algo que marca o nosso caminho e sai da nossa compreensão. Vivemos plenamente uma vida que em absoluto não conhecemos nem desejamos, mas iludimo-nos com a aparência de sermos felizes e plenamente responsáveis. À semelhança do nosso parceiro sensual e sexual, tudo é belo e harmonioso. Mas somos fruto do múltiplo e não do uno. Enquanto vivíamos num estado de indistinção completo o desejo não existia, e assim o amor não fazia sentido. Com a transgressão, conhecemos o desejo e com ele, o prazer sensual e sexual. Vimos como este é efémero e nos incita a uma permanente satisfação insatisfeita. Por isso mesmo, D. Juan "se deixa uma mulher, não é em absoluto porque já não a deseja. Uma mulher bela é sempre desejável. É, sim, porque deseja outra, e, de facto não se trata da mesma coisa" (p. 91).
Como se isto não bastasse, lembra ainda Camus, o que é comum ouvir aos teóricos das questões amorosas, que "não há amor eterno, a não ser contrariado. Não existe paixão sem luta" (p. 93). Dito de outra forma e numa linguagem mais cinéfila, com os devidos (d)efeitos especiais, 'o amor não existe. Existem apenas provas de amor'. O mesmo é dizer que o amor também se prova, tal como a comida ou a roupa. Se nos cair bem, poderemos eventualmente repetir a receita. Caso contrário, a primeira prova será a derradeira, e nós alegres e felizes, passamos à prova seguinte.
No tempo da sensualidade mediática, onde os corpos depois de se desgastarem nos ginásios para serem filmados idealmente, ficaria bem concluir pela vanidade do amor. São estes corpos que cegam os nossos instintos quando, artificial e ilusoriamente, fingem desintegrar-se em estridentes gritos orgásmicos que porventura nunca hão-de chegar a conhecer. Finalmente hão-de repousar enlaçados na frescura dos suores que tanto esforço permitiu!
Faço minhas as seguintes palavras de Camus "só chamamos amor àquilo que nos liga a certos seres, em referência a um modo de ver colectivo, de que são responsáveis os livros e as lendas. Mas do amor só conheço essa miniatura de desejo, de ternura e de inteligência que se liga a determinado ser" (p. 93).
©Fev/2004

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