quem somos

QUEM SOMOS







O Casa Amarela 5B -Jornal Online surge da vontade de vários artistas, de, num esforço conjunto, trabalharem no sentido de criar uma relação forte com o público e levando a sua actividade ao seu conhecimento através do seu jornal online.

Este grupo de artistas achou por bem dedicar o seu trabalho pintorNelsonDias, https://www.facebook.com/pages/Nelson-Dias/79280420846?ref=hl cuja obra terá sido muito pouco divulgada em Portugal, apesar de reconhecido mérito na banda desenhada, a nível nacional e internacional e de várias vezes premiado em bienais de desenho e pintura.


Direcção e coordenação: Maria João Franco.
https://www.facebook.com/mariajoaofranco.obra
contactos:
franco.mariajoao@gmail.com
+351 919276762


Sunday, October 16, 2011

Paulo Damião


ENCONTREI-TE AMANHÃ…

Esta exposição surge de uma pesquisa interior sobre o belo, o amor, a vida e a morte.

A paisagem aparece como uma espécie de filtro para o que realmente acontece no último plano e as personagens, por vezes submersas no seu universo, enfrentam as suas procuras e encontram-se.

O encontro pressupõe uma procura. É na continuidade da contemplação sobre o que se deseja e no caminho que se desenha, que nos aproximamos do outro e de nós.

Adivinham-se dois mundos: um no limite das águas e outro na superfície do ar. No primeiro, a água, as cordas, as árvores, o vento, o corpo acompanham o mistério daquilo que acontece abaixo da superfície: um mundo submerso. Mas é na superfície que os corpos se amam e se abismam e onde tudo acontece porque se deixou que a inquietação se apoderasse da mortalidade do amanhã…

Percorre-se um caminho líquido, num universo das águas e de sombras, que culmina com o encontro supremo na luz. Nesta busca incessante há um sentimento de melancolia e inquietação, que apela à vida terrena e habitável.

A expressão “encontrei-te amanhã” emerge da busca constante da concretização dos sonhos e desejos, enquanto seres insatisfeitos e conscientes da efemeridade da vida humana.

Todavia, é no Amor que se completa o círculo e é nele que nos imortalizamos.

Ao meu pai,

Paulo Damião



O Avesso,
sobre os trabalhos de Paulo Damião
Valter Hugo Mãe


O aspecto sedutor das figuras de Paulo Damião dá imediatamente lugar ao confronto com a sua qualidade espectral, um certo negrume que, afinal, radica no centro das cores mais celestiais. Parece estarmos diante de quem pertence ao inferno mas se vê aprisionado, ou exposto para humilhação, no paraíso.

Ninguém está bem no paraíso de Paulo Damião. Ninguém supera a circunstância. Diria que o modo como o pintor vê o mundo está dominado por essa troca de simbologias que faz dos lagos de água azul o novo fogo de um qualquer inferno. As figuras ficam imersas, perscrutantes, como deambulantes e sem pressa. São seres no tempo, com tempo, sumindo demasiado lentamente. Estão numa neblina constante, crepuscular, como à deriva. São pálidas e vagas, expõem uma tristeza profunda mas, expondo-a, parecem estar já para além dela. Dessensibilizados, desimportados, efectivamente vagos, em puro abandono.

O convívio com os quadros de Paulo Damião exige de nós um certo itinerário da violência. Os seus retratos são como que o resultado do gesto violento pressuposto, o gesto que já raramente a tela aborda mas que faz necessariamente parte da narrativa que contém. As figuras são como, sobretudo, animais depois, ou na eminência, do combate. Há um avulso das figuras que me sugere um lado vadio, como gente predadora e não absolutamente humana, sublinhada numa solidão bestial e intensa.

Aquela ideia de humilhação é importante para ver esta colecção de quadros. Os rostos expostos sempre estão num qualquer recolhimento que parece ser agredido pelo retrato. Existe aquela sensação que passa nas fotografias feitas aos antigos que julgavam perder a alma. Sem reacção, estas figuras têm o mesmo ar encurralado da presa que encara o pintor, o predador.

O modelo de Paulo Damião é o selvagem que, por um instante, se torna submisso. Apenas o suficiente para que a imagem surja, invasora e íntima, a partir do lugar impossível, simbolizando o mais íntimo ou recôndito, exactamente a radiografar o espectro, a roubar o espectro.

É muito bem conseguida a junção da beleza a uma dimensão angustiada da existência, diria também que é a dimensão acossada dos indivíduos, capturados em seu desvanecimento como algo desonrados. A beleza é estranha, tão inequívoca quanto alienígena, os rostos alongam-se, os olhos redondos abrem enormes, algo escapa ao natural. Estaremos perante figuras que se reconhecem entre elas mas que provocam no seu espectador a estranheza de que falava. São distintas do real e a irrealidade, ou um onirismo disfórico, será um modo claro de caracterizar o trabalho de Paulo Damião.

Digo onirismo disfórico, e não exatamente pesadelo, porque a propensão para a harmonização clássica das formas e a candura cromática parecem-me impor do lado do sonho que se procura no mais improvável, um sonho que, sendo irresistível, entristece. Tudo se faz dessa complexa vontade de capturar a atenção do espectador através das belas formas para lhe infligir a tristeza contida.

Sou há muito um grande admirador da obra de Paulo Damião. Vejo-a nesse lugar de improbabilidades. Admiro-a pelo risco, pelo desconforto e, ao mesmo tempo, pela capacidade de solicitar a ternura no limiar já da representação humana. Podíamos estar diante de deuses nos seus lagos quentes, ferozes tanto quanto cansados pelos seus combates e demasiadas responsabilidades. E gosto dessa espécie de heroicização dos indivíduos, elevados a uma condição bem mais espiritual do que o quotidiano permite mostrar. Gosto do muito belo que resulta do medo ou do inseguro, e o Paulo Damião tem sido um mestre nesse efeito. Esta nova exposição prova isso mesmo. A maravilha de um certo susto. A maravilha das coisas entendidas já um pouco pelo seu avesso.

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